Após ataque à ponte, Rússia faz maior bombardeio a Kiev em quatro meses

A Rússia lançou ontem uma série de ataques aéreos contra cidades por toda a Ucrânia, incluindo áreas distantes das frentes de batalha, como a capital Kiev, dois dias depois da explosão da ponte do Estreito de Kerch. Os bombardeios mais amplos desde o início do conflito deixaram pelo menos 11 mortos e 87 feridos, segundo autoridades ucranianas, motivando trocas de acusações de terrorismo entre Kiev e Moscou.

De acordo com o Estado Maior das Forças Armadas da Ucrânia, ao menos 75 mísseis foram disparados contra alvos em centros urbanos como Kiev, Lviv, Ternopil e Zitomir, no oeste do país, Dnipro e Krementchuk, na região central, e Mikolaiv e Zaporizhia, no sul. A defesa aérea ucraniana teria conseguido neutralizar 41 deles, mas ainda assim a capital registrou ao menos quatro explosões.

O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, admitiu que que o país enfrentou “uma manhã difícil” após a onda de bombardeios. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Zelenski acusou os russos de terrorismo e de mirar alvos civis. “Estamos lidando com terroristas. Eles têm dois alvos: infraestrutura energética e pessoas. Eles querem ver pânico e caos, destruir nosso sistema de energia. A Ucrânia estava aqui antes desse inimigo aparecer, a Ucrânia estará aqui depois dele”, disse.
Acusações de terrorismo também partiram de Moscou. O presidente Vladimir Putin afirmou que os ataques desta segundo foram uma retaliação às tentativas da Ucrânia de repelir as forças de Moscou, incluindo o ataque à ponte que ligava Rússia e Crimeia. Putin prometeu uma resposta “dura” e “proporcional”, caso a Ucrânia realize novos ataques que ameacem a segurança da Rússia. “Ninguém deve ter dúvidas sobre isso”, declarou.
Especialistas disseram que é muito cedo para dizer se os ataques terão um impacto significativo sobre as Forças Armadas da Ucrânia, mas afirmam que eles parecem ter sido realizados com o objetivo de aplacar os pedidos de nacionalistas russos, para que Putin intensifique o esforço de guerra. As críticas ao presidente aumentaram nas últimas semanas, com o avanço da contraofensiva ucraniana no leste e sul do país.
No último revés, uma explosão destruiu parcialmente a ponte do Estreito de Kerch, uma gigantesca obra que Putin inaugurou em 2018 como uma das principais de seu governo e usada para levar suprimentos da Rússia para a Crimeia, anexada em 2014. Na dinâmica da guerra, a estrutura era importante para abastecer as tropas russas no sul da sul da Ucrânia, um dos focos da contraofensiva de Kiev. Putin classificou o episódio de “ataque terrorista contra infraestrutura civil crítica”, e acusou os serviços secretos da Ucrânia de serem responsáveis pela explosão. Kiev não reivindicou a autoria do ataque.
Nacionalistas 
A estratégia de Putin parece ter alcançado o público-alvo. Nacionalistas russos comemoraram os bombardeios contra alvos ucranianos, entendendo a ofensiva como o sinal há muito esperado de que o Kremlin está intensificando seus ataques.
Ramzan Kadirov, o líder da república russa da Chechênia, que poucos dias atrás havia protestado contra a liderança militar em Moscou por ordenar a retirada de uma cidade-chave no leste da Ucrânia, aplaudiu o ataque desta segundo e disse estar finalmente “satisfeito com a forma como a operação militar especial está em andamento”.
Sergei Aksinov, líder russo na Crimeia, disse que os ataques demonstraram que a abordagem da Rússia à guerra mudou. Se os militares russos tivessem visado a infraestrutura civil da Ucrânia “todos os dias desde o primeiro dia da operação militar especial, teríamos encerrado tudo em maio”, escreveu ele no Telegram.
Durante meses, a mídia estatal russa, em sintonia com a linha oficial do Kremlin, vem alegando que as forças russas estavam atingindo apenas alvos militares na Ucrânia. Isso mudou ontem com o Canal 1, uma das duas principais redes de televisão do país, relatando os ataques contra cidades ucranianas como sua principal matéria. “Instalações críticas de infraestrutura foram danificadas”, disse o âncora de um noticiário da televisão estatal, narrando imagens de fumaça subindo no centro de Kiev.
Joe Biden condena as ‘agressões’
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou os bombardeios russos em diversas cidades na Ucrânia ontem e os classificou como uma “brutalidade total da guerra ilegal de Putin”. Segundo o presidente, os ataques não serviram a nenhum propósito militar e acabaram reforçando o compromisso dos EUA de estarem com a Ucrânia na guerra.
Arquivo
Biden afirma que há “brutalidade total” nos ataques

Biden afirma que há “brutalidade total” nos ataques

Até o momento, os EUA não anunciaram nenhum novo pacote de medidas contra os ataques. Biden deve participar de uma reunião virtual nesta terça-feira, 11, com os líderes do G-7 (EUA, Canadá, Japão, França, Alemanha, Itália e Reino Unido) para discutir os últimos acontecimentos da guerra.
Após os bombardeios, a China e a Índia, principais parceiras comerciais da Rússia, evitaram críticas diretas a Putin, mas renovaram os apelos para a desescalada militar imediata. “Todos os países merecem respeito por sua soberania e integridade territorial”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, ontem. “Devem ser dados apoio a todos os esforços que sejam propícios para resolver pacificamente a crise”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Arindam Bagchi, disse que Nova Délhi ofereceria apoio aos esforços para acalmar os combates. “A Índia está profundamente preocupada com a escalada do conflito na Ucrânia, incluindo o direcionamento de infraestrutura e mortes de civis”, disse Bagchi.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também condenou o ataque nesta segunda-feira. “Chocada e horrorizada com os ataques cruéis nas cidades ucranianas. A Rússia de Putin mostrou novamente ao mundo o que representa: brutalidade e terror”, escreveu no Twitter, também reforçando o apoio à Ucrânia.
A série de bombardeios matou ao menos 14 pessoas em toda a Ucrânia e feriu outras 97, segundo as autoridades do país. A infraestrutura de energia e outros serviços essenciais também foi atingida, no momento em que o inverno do Hemisfério Norte se aproxima. Kiev também foi atingida, depois de quatro meses de trégua.
Como medida de precaução, a Ucrânia determinou que todas as escolas fiquem em ensino remoto. O temor é que os ataques marquem o início de uma nova ofensiva russa, com o apoio de Belarus – de onde partiu, segundo autoridades ucranianas, alguns drones que atingiram o país ontem; e onde o presidente, Alexander Lukashenko, disse que concordou com a Rússia em criar um “agrupamento regional de tropas”.
Em um discurso televisivo, Putin disse que os ataques foram uma resposta à explosão que atingiu a ponte do Estreito de Kerch, única ligação da Península da Crimeia com a Rússia e que tem um papel estratégico no conflito por facilitar envio de tropas e reabastecimento entre os dois territórios. A explosão foi atribuída à Ucrânia e chamada de “ataque terrorista” pelo presidente russo, e novos ataques aéreos não foram descartados caso a Ucrânia continue a atingir novos alvos.
Além disso, os ataques também aconteceram no momento em que a Ucrânia consegue obter êxito em contraofensivas e recupera territórios no campo de batalha nas regiões leste e sul.
O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, admitiu que o país enfrentou “uma manhã difícil” após a onda de bombardeios. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Zelenski acusou os russos de terrorismo e de mirar alvos civis. “Estamos lidando com terroristas. Eles têm dois alvos: infraestrutura energética e pessoas. Eles querem ver pânico e caos, destruir nosso sistema de energia. A Ucrânia estava aqui antes desse inimigo aparecer, a Ucrânia estará aqui depois dele”, disse.
A Moldávia disse em um protesto que mísseis russos disparados do Mar Negro sobrevoaram o seu espaço aéreo.