Rio e São Paulo (AE) – Afetado pela inflação de alimentos, pela alta da inadimplência e pelo encarecimento do crédito, o comércio varejista recuou 0,1% agosto. Foi o terceiro mês consecutivo de perdas, segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O nível de inflação aumentou e corroeu o poder de compra da população, e isso está sendo amplificado (no varejo), pois parte da renda está sendo direcionada do consumo de bens para serviços”, avaliou o economista-chefe da gestora de recursos Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.
Em agosto de 2022 ante julho, o volume vendido encolheu em três das oito atividades pesquisadas pelo IBGE: equipamentos para informática e comunicação (-1,4%); outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui lojas de departamento (-1,2%); e artigos farmacêuticos e de perfumaria (-0,3%). Houve avanços em vestuário e calçados (13%); combustíveis (3,6%); livros e papelaria (2,1%); móveis e eletrodomésticos (1%); e supermercados (0,2%).
No comércio varejista ampliado, que engloba as atividades de veículos e de material de construção, as vendas caíram 0,6% em agosto ante julho. O segmento de veículos subiu 4,8%, enquanto o de material de construção caiu 0,8%.
Se por um lado a inflação deu trégua nos combustíveis, o aumento de preços dos alimentos ainda pressiona os supermercados, afirmou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio no IBGE. “Ela (inflação) ainda contribui no sentido de reduzir o poder de compra, o orçamento disponível das pessoas para o consumo”, justificou.
A inadimplência também continua em crescimento, enquanto os juros em alta detêm a expansão do crédito, formando um conjunto de fatores que manteve o varejo “andando de lado” em agosto, explicou Santos.
‘Cabo de guerra’
A contração nas vendas do comércio varejista em agosto poderia ter sido ainda maior não fossem os efeitos de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada em julho que aumentou o valor dos pagamentos do programa Auxílio Brasil e criou estímulos para caminhoneiros e taxistas, lembrou André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria.
“É como se fosse um cabo de guerra: a Selic (taxa básica de juros) tentando diminuir o ritmo da atividade econômica, e o governo tentando acelerar”, comparou ele. O volume de vendas do varejo chegou a agosto a patamar 1,1% acima do nível de fevereiro de 2020, período anterior ao início da pandemia de covid-19. Já no varejo ampliado, as vendas ainda operam 3% abaixo do pré-covid.
Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, combustíveis, supermercados e material de construção estão operando acima do patamar pré-crise sanitária. Os demais estão aquém: veículos (vendas 8,4% abaixo do nível de fevereiro de 2020); móveis e eletrodomésticos (17,2%); vestuário (14,6%); equipamentos de informática e comunicação (13,8%); outros artigos de uso pessoal e domésticos (3,8%); e livros e papelaria (34,8%).
Comparação com agosto de 2021
De acordo com o IBGE, cinco das oito atividades que integram o varejo registraram crescimento em agosto de 2022 ante agosto de 2021. Na média global, o comércio varejista teve um avanço de 1,6%.
Houve expansão em Combustíveis e lubrificantes (30,2%), Livros, jornais, revistas e papelaria (19,0%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,6%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,1%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%).
Os três setores que recuaram foram Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-10,5%), Móveis e eletrodomésticos (-8,5%), e Tecidos, vestuário e calçados (-5,6%).
No varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, as vendas caíram 0,7% em agosto de 2022 ante agosto do ano anterior. O segmento de Veículos e motos, partes e peças caiu 4,1%, e Material de construção recuou 7,1%. As informações são da Tribuna do Norte.