A menos de um mês para o prazo final de registro das candidaturas, sete presidenciáveis ainda não anunciaram seus candidatos a vice. Dos 12 políticos que vão disputar o Palácio do Planalto, apenas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Felipe D’ávila (Novo) e Vera Lúcia (PSTU) já fecharam suas chapas. Os partidos têm até o próximo dia 15 de agosto para apresentar as candidaturas, mas as convenções partidárias que validam os nomes devem ser realizadas até dia 5.
Pelas regras eleitorais, sem indicar um candidato a vice-presidente, um partido não pode participar da eleição presidencial. Desde 1985, quando começou a redemocratização, três vices já assumiram a Presidência de forma definitiva: José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.
No diagnóstico do analista político Creomar de Souza, da Universidade de Brasília (UnB), a indefinição a essa altura é resultado da polarização da disputa. “A dificuldade em definir vices está vinculada ao fato de que o sistema político se cristalizou em torno de duas variáveis principais: as candidaturas de Lula e Bolsonaro e a corrida por cadeiras no Legislativo”, observou. “As candidaturas de menor tração tornaram-se até aqui pouquíssimo atraentes em termos de construção de coalizão”, completou.
O ex-ministro Ciro Gomes foi oficializado pelo PDT como candidato a presidente na última quarta-feira, mas sem apresentar o vice. Ele disse que busca uma mulher para compor a chapa. O presidente do partido, Carlos Lupi, tem dito que vai esperar até o último momento para atrair partidos para a aliança de Ciro, que aparece em terceiro nas pesquisas de intenção de voto. No entanto, o cenário mais provável é de uma chapa apenas com integrantes do PDT. Suely Vilela (PDT), ex-reitora da Universidade de São Paulo (USP), é uma das cotadas para ser vice.
Já a pré-candidata do MDB a presidente, senadora Simone Tebet, tem o apoio do PSDB e do Cidadania. Há um acordo para que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) seja o candidato a vice. Os tucanos, no entanto, seguram o anúncio de Tasso como vice porque ainda esperam como contrapartida que o MDB apoie Eduardo Leite (PSDB) para o governo do Rio Grande do Sul. Simone terá sua candidatura confirmada no próximo dia 27 de julho, quando está prevista a convenção do MDB.
Pré-candidato pelo União Brasil, Luciano Bivar não conseguiu o apoio de nenhuma sigla. A solução deve vir do próprio partido: a senadora Soraya Thronicke (União-MS) é o nome mais cotado. Resultado da fusão entre DEM e PSL (ex-sigla do presidente Jair Bolsonaro) e dona do maior fundo eleitoral, a sigla tem dado prioridade às disputas para governador e para a Câmara.
André Janones (Avante), Pablo Marçal (PROS), Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP) e Sofia Manzano (PCB) também ainda não têm vice.Lula foi o primeiro a se movimentar para fechar um acordo para selar o vice. Desde o final de 2021, o petista negociou um acordo para ter o ex-tucano e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) a seu lado. Na quinta-feira, 21, o PT oficializou a chapa.
O ex-governador já disputou duas vezes o Palácio do Planalto, em 2006, quando perdeu para Lula no segundo turno, e em 2018, quando ficou em quarto lugar. Nas duas eleições, fez diversas críticas ao PT, lembrando escândalos de corrupção envolvendo o partido e a condução das gestões petistas na economia.
Em mensagem divulgada no Twitter na quarta-feira, 20, Lula explicou sua escolha. “Muita gente estranha minha aliança com o Alckmin. Eu li em um livro do Paulo Freire que a gente tem que juntar os divergentes para derrotar os antagônicos. E é isso que vocês precisam saber. Nós vamos consertar esse país”, afirmou. Além do PSB e do próprio o PT, Lula tem o apoio do PCdoB, PV, Solidariedade, PSOL e Rede.
Escolha
Já Bolsonaro escolheu um nome próximo a ele. O general Walter Braga Netto (PL), ex-ministro da Defesa, deve ser confirmado como vice no domingo, 24, no Rio, na convenção do partido. O presidente também deve ter o apoio do Republicanos, Progressistas e PSC. O militar coordena o plano de governo de Bolsonaro. Segundo o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), o ex-ministro tem experiência de planejamento e estratégia e deve ter uma atuação ativa no governo caso Bolsonaro seja reeleito. “Sempre esteve presente e atuante, não será diferente como vice”, disse.
O cientista político Bruno Carazza avalia que os perfis de vice escolhidos por Lula e Bolsonaro atendem a estratégias diferentes. “Lula buscou sinalizar uma ampliação de apoios para além da esquerda. Bolsonaro, por sua vez, opta por sedimentar a associação com os militares e, caso reeleito, minimizar os riscos de impeachment, como aconteceu com Mourão”, observou.
Carazza também disse que a demora em completar as chapas sinaliza a falta de viabilidade dos candidatos. “A demora na definição do vice nas chapas desses candidatos revela uma dificuldade em construir alianças políticas e sociais em torno de seus projetos de poder”.
Vera Lúcia, que irá representar o PSTU na disputa pelo Palácio do Planalto, vai ter a colega de partido Raquel Tremembé como vice. O Novo vai ter Luiz Felipe D’Ávila como candidato a presidente e o deputado Tiago Mitraud (MG) como vice.