Pelo menos 15 ex-governadores querem disputar vagas de deputado federal em outubro, o que cientistas políticos analisam como um fator relevante para melhorar o debate no Congresso Nacional. Em 2018, apenas três ex-governadores foram eleitos para a Câmara, enquanto vários novatos sem conexão com a política desbancaram líderes experientes e com grande desenvoltura no processo parlamentar.
Entre os ex-chefes do Executivo que agora disputam vaga na Câmara estão o tucano José Serra, que foi governador de São Paulo e prefeito da capital paulista, além de candidato três vezes à Presidência da República. Serra se destaca no debate econômico e foi o único voto contra a PEC Kamikaze no Senado. A disputa para deputado federal também está atraindo a ex-candidata à presidência Marina Silva (Rede).
O Distrito Federal é o caso mais emblemático. Nada menos do que cinco ex-governadores vão tentar uma vaga de deputado federal. Se todos forem eleitos, mais da metade da bancada do DF será formada por políticos com passagem pelo Executivo. Entre os pré-candidatos está José Roberto Arruda, ex-governador e ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso. Após ser convencido pelo PL e visitar o presidente Jair Bolsonaro, Arruda bateu o martelo nesta terça, 19, de que esse seria o caminho mais fácil para voltar à política, após ser condenado por corrupção.
Outros dois pré-candidatos no DF, além de governadores, também acumulam a experiência como ministro: Agnelo Queiroz (PT), dos Esportes, e Cristovam Buarque (Cidadania), da Educação. Estão ainda na disputa Rodrigo Rollemberg (PSB) e Rogério Rosso (Progressistas).
Em alguns casos, políticos optam pela Câmara para serem puxadores de votos. Em outros, protagonistas de escândalos de corrupção visam a sobrevivência política ao tentar um caminho mais fácil de voltar a ter um mandato.
O ex-governadores Germano Rigotto (MDB-RS), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN), Robinson Faria (RN), Roseana Sarney (MDB-MA), Wilson Martins (PT-PI), Mendonça Filho (União-PE), Beto Richa (PSDB-PR) e Anthony Garotinho (União-RJ) são outros exemplos de políticos que podem disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.
Hoje, apenas Aécio Neves (PSDB-MG), Benedita da Silva (PT-RJ) e Alcides Rodrigues (Patriota-GO) são ex-governadores que exercem mandato de deputados.
No diagnóstico do professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) Marcelo Weick, a chegada de ex-governadores na Câmara “pode vir a alterar a dinâmica” da Casa e impactar a sucessão de Arthur Lira (Progressistas-AL) na presidência.
“Pode contribuir para uma nova morfologia na disputa da Mesa Diretora e na relação entre os principais expoentes do Congresso”, observou MarceloWeick .
O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) admite que escolheu buscar um mandato de deputado federal porque teria mais chances de ser eleito. Ele foi preso três vezes, o que o tornaria numa eleição majoritária alvo de ataques.
“Sair para deputado federal era o mais apropriado no momento. Mano a mano vem muita maldade. Eu até encaro, não tenho receio, mas não queria submeter a minha família a isso, relembrando o sofrimento”, afirmou o ex-governador Beto Richa.
Garibaldi Filho e Robinson são pré-candidatos
Ex-senador e ex-governador, Garibaldi Alves Filho (MDB) tenta o seu primeiro mandato de deputado federal nas eleições de 2022. Mas, a experiência no legislativo não é de hoje, pois o político, que já foi ministro de Estado, começou na vida pública como deputado estadual, tendo sido eleito em 1970 pela primeira vez para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Garibaldi Filho saiu da Assembleia depois de eleito prefeito de Natal em 1985, o primeiro mandato executivo que exerceu entre 1986 e 1988. Depois, ficou sem mandato de 1989 a 1990, quando se elegeu pela primeira vez para um mandato federal – senador da República.
Para Garibaldi Filho, a eleição para a Câmara dos Deputado “é um desafio que já nasce validado pelo povo do Rio Grande do Norte; me sinto seguro em colocar meu nome a disposição do nosso estado, tendo em vista o exercício de inúmeros cargos públicos já dedicados e prestados com retidão, compromisso acima de tudo, muita transparência e resultados reconhecidos”.
Em 2018, Garibaldi Filho tentou a reeleição para o Senado Federal, sem êxito. Agora, segundo ele, “é uma satisfação imensa chegar nesse momento da vida e saber dos relevantes serviços já executados com primazia ao RN e aos cidadãos que mais precisam, com implementação de importantes programas como o das adutoras que levaram vida e prosperidade ao interior e que me rendem até hoje o título de Governador das Águas”.
Segundo Garibaldi Filho, “enquanto pré-candidato a deputado federal, quero aproveitar ao máximo minha experiência de uma trajetória larga e articulações conquistadas em Brasília para proporcionar o melhor para o meu estado e para o Brasil. Estou confiante que o RN está comigo mais uma vez”.
Outro ex-governador do Rio Grande do Norte a disputar pela primeira vez uma das oito cadeiras de deputado federal pelo Rio Grande do Norte, é Robinson Faria (PL), que também começou sua carreira política na Assembleia Legislativa, onde também foi presidente. Robinson foi deputado estadual entre 1987 e 2010, quando foi eleito vice-governador, tendo sido eleito governador em 2014 e perdido a reeleição em 2018 para a governadora Fátima Bezerra (PT), que já foi deputada estadual, deputada federal e senadora.
A TRIBUNA DO NORTE tentou falar com o ex-governador Robinson Faria, mas não obteve retorno. Agora, ele, que não conseguiu se reeleger governadora do Estado, tentará ocupar a cadeira que era do filho, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que em fevereiro desistiu de disputar a senatória este ano, preferindo permanecer na equipe ministerial do presidente Jair Bolsonaro, a fim de concluir os projetos que vem tocando na pasta das Comunicações, como a implantação do 5G e da internet grátis nas escolas e a universalização da internet na maioria dos municípios do Brasil.
No entanto, nas redes sociais e em pré-campanha eleitoral, Robinson Faria tem dito que “após anos de experiência representando o povo do Rio Grande do Norte na Assembleia Legislativa e após ter governado o Estado com foco nos mais humildes, sinto-me preparado para o desafio de representar o RN no Congresso Nacional”.
Mas, essa não é a primeira vez que ex-governadores do Rio Grande do Norte postulam mandatos na Câmara Federal. Em 2018, o hoje presidente do União Brasil, ex-senador José Agripino, que começou a carreira política como prefeito eleito indiretamente pela Câmara Municipal de Natal em 1979, tentou substituir o filho, Felipe Maia, na Câmara dos Deputados, mas não obteve êxito.
Outro exemplo foi o primo de Agripino, o falecido ex-governador e ex-senador Lavoisier Maia Sobrinho também fez o caminho inverso, foi deputado federal e foi deputado estadual.
Nos anos 60, por exemplo, o falecido ex-ministro Aluízio Alves, saiu do governo em 1965 para se eleger deputado federal, cargo que exerceu antes entre 1946 e 1960, até ser cassado pela Ditadura Militar em 1969. Ex-ministro do governo José Sarney (1985/1990), Aluízio Alves voltou a ser eleito deputado federal em 1990.