O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmou nesta quarta-feira (15) um aumento de 0,75 ponto percentual da sua taxa de juros.
É a maior alta aplicada pela autoridade monetária dos Estados Unidos desde 1994, indicando uma postura mais agressiva do órgão no enfrentamento à maior inflação no país em quatro décadas.
Esse ajuste leva a taxa de referência do Fed para o empréstimo diário entre bancos (parâmetro para o setor de crédito em geral) a um intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano.
Novas projeções, após consultas aos conselheiros do Fed, apontam para uma taxa mediana de 3,375% ao final deste ano, ou um adicional de 1,75 ponto percentual nas próximas quatro reuniões das autoridades, segundo o jornal The Wall Street Journal.
Embora o presidente do Fed, Jerome Powell, tenha comentado que altas dessa magnitude não devem se tornar comuns, ele também disse durante seu pronunciamento à imprensa que considera provável um novo aumento entre 0,50 e 0,75 ponto na próxima reunião do órgão.
Powell reforçou que os próximos passos serão ditados pelas pressões inflacionárias, destacando em seu comentário os problemas na cadeia global de abastecimento decorrentes da Covid na China e da Guerra da Ucrânia.
Apesar do potencial impulso que a elevação dos juros pode promover na taxa de câmbio no Brasil, o dólar caiu 2,06% no pregão desta quarta, encerrando o dia cotado a R$ 5,0290 na venda.
Analistas avaliam que o recuo ocorre porque, como o mercado passou a esperar a elevação de 0,75 ponto na taxa do Fed nos dias que antecederam a reunião, a valorização da divisa americana, que acumulou sete ganhos diários desde a semana passada, já considerava no preço o aperto ao crédito nos Estados Unidos.
Na Bolsa de Valores brasileira, o índice Ibovespa fechou em alta de 0,73%, a 102.806 pontos, interrompendo uma sequência de oito quedas diárias consecutivas.
Em Nova York, a Bolsa americana também buscou o caminho da recuperação depois de cinco tombos, com seu índice de referência, o S&P 500, avançando 1,46% nesta sessão.
O índice Dow Jones, que acompanha empresas americanas de grande valor, ganhou 1%. O Nasdaq, focado em companhias médias do setor de tecnologia, subiu 2,5%.
“De certa forma, o mercado já vinha incorporando essa expectativa nos preços dos ativos, principalmente no câmbio, de forma que o ajuste nos próximos dias deve ser menor”, comentou Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
O mercado financeiro vem sendo pressionado nos últimos dias pelo sentimento cada vez mais forte de que a inflação mundial está descontrolada e provocará uma alta global de juros capaz de colocar as principais economias à beira da recessão.
O estresse ganhou força na última sexta-feira (10), quando dados da inflação americana vieram acima do esperado, reforçando o sentimento de que autoridades monetárias em todo o mundo terão de acelerar ainda mais suas respectivas taxas de juros.
Essa situação tende a valorizar moedas fortes, sobretudo o dólar, e tirar investimentos de ações de empresas negociadas nas Bolsas.
A Bolsa brasileira mergulhou 9,19% entre a sua última alta, em 2 de junho, o fechamento do pregão de terça-feira (13).
Apesar da queda da Bolsa ter forte relação com o cenário internacional, a percepção de investidores quanto ao risco fiscal também passou a prejudicar os negócios após o governo Jair Bolsonaro (PL) ter colocado em pauta uma proposta de desoneração dos combustíveis.
ALTA DOS JUROS NOS EUA TIRA INVESTIMENTOS DOS MERCADOS MUNDIAIS
O aperto monetário -que significa tornar o crédito mais caro para, assim, esfriar o consumo e desacelerar a inflação- nos Estados Unidos aumenta o rendimento dos títulos do Tesouro americano, considerado o investimento mais seguro do planeta.
Isso leva investidores a diminuírem suas aplicações em mercados mais arriscados, como as Bolsas de Valores. É um momento em que o mercado quer tirar proveito da renda fixa mais atrativa nos EUA.
Esse aumento do fluxo de dólares em direção aos títulos soberanos nos Estados Unidos torna a moeda mais escassa e cara, provocando uma reação em cadeia no mundo dos negócios.
Em países de economia emergente, como o Brasil, a alta do dólar eleva custos de importação e faz disparar a inflação.
Bancos Centrais são forçados a elevar juros para convencer investidores de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.
O principal problema desse movimento é a falta de liquidez no mercado, uma vez que investidores passam a ter a chance de obter ganhos confortáveis com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo. O dinheiro que sai das Bolsas faz falta para as empresas, pois elas perdem capital com a queda das suas ações e deixam de crescer e gerar empregos.
Mas a crise atual é ainda mais difícil de se enfrentar porque o aperto ao crédito não é o único remédio capaz de frear a inflação. Ainda como consequência das paralisações de atividades provocadas pela pandemia de Covid, o mundo enfrenta a falta de bens e insumos.
A alta de preços, portanto, precisaria também ser combatida com o aumento da oferta. Mas há ao menos dois grandes impedimentos para a normalização da comercialização global de mercadorias.
Em primeiro lugar, a China, que concentra boa parte da produção de bens industrializados do mundo, mantém severas restrições ao funcionamento de empresas para tentar conter as infecções pelo coronavírus.
Além disso, a guerra na Ucrânia reduziu a oferta de petróleo e fez o preço da matéria-prima disparar, uma vez que a produção russa foi banida dos Estados Unidos e de parte da Europa. Também devido ao conflito, a produção de grãos da Ucrânia enfrenta obstáculos para ser escoada, colaborando com o aumento global dos preços dos alimentos.