As chuvas dos últimos dias em Natal tem causado problemas a quem trafega pelas ruas da capital potiguar. Além de buracos e pontos de alagamento, há o registro de árvores caídas, que bloqueiam temporariamente o tráfego. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram 61 ocorrências de queda de árvores em via pública de janeiro a abril de 2022 em todo o Rio Grande do Norte. No mesmo período do ano passado, foram 29 registros, um aumento de 110%. Enquanto isso, a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern) verificou 1029 ocorrências na rede elétrica causadas por toques de galhos de árvores na rede do Rio Grande do Norte de janeiro a maio, um aumento de cerca de 35% em comparação ao mesmo período de 2021, quando houve 764 ocorrências.
No último sábado (7), uma árvore caiu sobre um motoentregador que passava pela Avenida Hermes da Fonseca, no bairro Tirol, zona Leste de Natal. O trabalhador foi socorrido pelos Bombeiros e em seguida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Junto a isso, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) realiza um trabalho de poda na cidade. Entretanto, segundo o órgão, os serviços iniciados agora não têm relação com o acidente do motociclista, já que é um trabalho feito constantemente. “Inclusive, esse trabalho tem acontecido com maior ênfase no período de maio, em especial na região Leste da cidade, onde se encontram árvores muito antigas nos corredores”, disse a Semsur.
Segundo o relatório de manejo arbóreo do Departamento de Paisagismo da pasta, a secretaria registra mais de mil podas por mês. Também segundo o documento, houve o registro de aproximadamente 30 árvores caídas entre janeiro e maio deste ano. Ainda de acordo com o Departamento, 90% das árvores que caem são algodoeiros. Os outros 10% são de árvores exóticas, como o Nim.
Nesta terça-feira (10), a TRIBUNA DO NORTE acompanhou o trabalho de poda no bairro do Tirol. Duas equipes da empresa de arborização urbana realizavam o processo de corte das árvores na rua Jundiaí, nas esquinas anterior e posterior à Câmara Municipal de Natal. “A gente já tinha dado início desde dezembro, preparando a cidade para as chuvas”, diz Renata Larissa, diretora de paisagismo da Semsur. Como as árvores da região tem por volta de 80 anos, a Secretaria está mais atenta. “Essas árvores datam por volta da década de 1940, então nessas áreas a gente dá uma atenção especial”, destaca.
Como a região da rua Jundiaí possui muitos carros estacionados, Renata diz que há uma cobrança constante da população. Em períodos de chuva, as preocupações aumentam. Porém, a diretora alerta contra o plantio irregular, que pode favorecer a queda. Ainda segundo ela, “a chuva entra como um dos principais fatores de queda de árvores”. “A gente fez uma análise e 95% das árvores que caíram foram plantadas pela população. São árvores exóticas, e 90% delas são algodoeiros-da-praia, que tem uma rebrota muito rápida. Por mais que a gente faça uma poda constante, a gente chega a podar oito vezes mais do que uma árvore nativa”, explica.
Para evitar maiores problemas, a Semsur, responsável pelos serviços arbóreos, realiza um trabalho preventivo para evitar acidentes. Segundo a pasta, “a secretaria tem um trabalho contínuo de avaliação e mitigação de risco”.
O serviço executado pela prefeitura contempla não só a redução da copa das árvores, mas também a realização de ultrassonografia para verificar doenças no interior desses vegetais, com a intenção de prevenir futuros acidentes. Como o manejo das árvores é feito por uma empresa terceirizada, a Semsur não soube informar quantas equipes ao todo realizam atualmente o trabalho de manejo arbóreo. Na rua Jundiaí, estavam duas equipes, com cinco funcionários ao todo.
Além deste serviço, a empresa realiza ainda tratamento fitossanitário — o procedimento para controle de pragas —. “Se é cupim, algum tipo de fungo, alguma cavidade que a gente possa fazer uma intervenção, explica a diretora de paisagismo. “Isso é feito de árvore a árvore, também para tentar dar uma sobrevida a ela, fazendo tanto a redução da copa, como também aplicando um produto que ela possa se recuperar”, completa. O passo seguinte após a poda é a trituração de material para a produção de compostagem.
Por isso, os trabalhos seguem. Segundo os trabalhadores terceirizados que estavam na rua Jundiaí, duas árvores ainda seriam retiradas em breve. “A parte com madeira mais densa, partes ocas, suscetíveis a patógenos”, disse Larissa. Um dos lados da via também estava interditado para o procedimento do trabalho, enquanto outra equipe atuava na avenida Romualdo Galvão.
Os cuidados partem também da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). O chefe da pasta, Thiago Nunes, diz que o órgão tem elaborado um Inventário de Arborização do Município de Natal. O documento serve para orientar diretrizes para a área urbana, como o “tipo de árvore que a região tem, aquelas que são recomendadas ou não para a parte urbana, a altura que pode pegar em fiação, de raízes que podem comprometer canteiros e avenidas”, dentre outros casos. “É um grande diagnóstico”, diz Nunes.
Para ele, o plantio irregular “fere completamente o que deveria seguir o Inventário”. “Por melhor que seja a intenção da população, e tem muita gente que tem isso como ideologia, mas é ilegal plantar ou suprimir árvore sem autorização da Secretaria de Meio Ambiente”, explica. Segundo o secretário, é a Semurb que vai dizer exatamente onde se pode plantar, que tipo de árvore pode plantar, qual o porte da vegetação. “Às vezes, uma árvore como essa causa muito mais malefícios do que benefícios se for plantada a espécie errada no local errado”, diz.