Presidente da CBF é acusado de favorecimento de familiares e de compra de votos

Pouco mais de um mês após ser eleito o novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues Gomes, enfrenta uma série de denúncias de má gestão, que vão desde a contratação da empresa da filha para fornecimento de produtos de higiene para a CBF, até a nomeação do genro para cargo de direção no futebol brasileiro.

Os atos teriam sido cometidos enquanto Ednaldo era o presidente interino da entidade em substituição ao ex-presidente Rogério Caboclo, afastado após denúncias de assédio sexual e moral. Em 23 de março desse ano, como candidato único, ele foi eleito para mandato que vai até 2026, após ter quase que a totalidade dos votos

A denúncia enviada ao Conselho de Ética da CBF narra os supostos atos e que mencionam que durante o período em que Ednaldo foi presidente interino, a empresa em que a executiva de vendas, Rafaella Galvão Brandt, filha dele, foi contratada para o fornecimento de kits de higiene durante um evento da entidade sobre a conscientização para a prevenção ao câncer de mama.

De acordo com a denúncia, Raffaela postou nas redes sociais fotos dos kits – composto por um hidratante, toalhas, um voucher para um spa e um card de auto exame das mamas – onde era possível visualizar o logo da CBF. A denúncia não menciona valores, mas aponta que a compra fere o código de ética da entidade.

A CBF foi questionada sobre o contrato com a empresa em que a filha do presidente atua e respondeu que a aquisição destes kits cumpriu todas as etapas e verificações previstas na política de governança e conformidade da entidade.

Ainda de acordo com a denúncia, Ednaldo também teria se utilizado de contratos da CBF para presentear presidentes das federações de futebol pelo Brasil para comprar votos. Um desses contratos foi celebrado com uma montadora de veículos. O documento narra que diversos carros que faziam parte desse contrato com a CBF foram enviados para dirigentes às vésperas das eleições.

Sobre esse fato, a CBF informou que desconhece qualquer uso político e que “desde o início do contrato de patrocínio assinado entre a CBF e a Fiat, em 2019, a contrapartida recebida em veículos é distribuída anualmente aos integrantes da estrutura do futebol brasileiro, sejam clubes, federações, profissionais da arbitragem, vencedores do Prêmio Brasileirão e, inclusive, unidades são sorteadas entre funcionários da entidade ao final do ano”, em nota.

Durante o mandato interino, Ednaldo também fez outros negócios em família e já no final do ano passado, teria nomeado o genro, Gabriel Brandt, para ser um dos representantes da CBF junto à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Desde então, Brandt ocupa o cargo de delegado de futebol e recebe, além dos pagamentos por partida em que atua, verbas para hospedagem, alimentação e deslocamento.

A CBF, por sua vez, informou que mesmo sem ser funcionário da entidade, Brandt já prestava serviços desde 2013 em outros cargos e que a indicação dele para atuar em jogos da Conmebol aconteceu antes da posse do atual presidente da CBF, ocorrida em 25 de agosto de 2021. Reconduzido ao cargo depois da posse do sogro, ele comunicou à Conmebol que era genro do presidente, que respondeu que não havia conflito de interesses.

A denúncia também aponta que Ednaldo teria aceitado uma oferta de um contrato que teria acarretado no prejuízo R$ 4 milhões aos cofres da entidade. Isso porque, de acordo com os documentos, a licença para comercialização de placas publicitárias da Supercopa do Brasil 2022 foi negociada por R$ 2 milhões em substituição a um acordo que teria acontecido anteriormente e que previa o pagamento de R$ 6 milhões. Para esconder o esquema, o contrato teria sido assinado em data retroativa.

A CBF informou por nota que o contrato de publicidade estática relativo à Supercopa do Brasil 2022 foi assinado pelas partes em 17 de dezembro de 2021 e que em 5 de janeiro de 2022, uma segunda proposta, englobando uma série de propriedades comerciais adicionais da Supercopa foi recebida pela Diretoria Financeira.

“Ainda que o valor apresentado pela empresa interessada fosse maior, a venda dos direitos anteriormente firmada impossibilitou o andamento da negociação para esta temporada, conforme parecer informativo da referida Comissão à Presidência da entidade”, finaliza.

Confira a nota completa da CBF sobre indicação de Gabriel Brandt

“O Sr. Gabriel Brandt nunca foi funcionário da CBF e, assim como outros profissionais de todo o país, exerce a função de Supervisor de Imprensa em jogos de competições regionais, nacionais e internacionais desde 2013, tendo iniciado suas atividades na Copa das Confederações organizada pela FIFA no Brasil. No ano seguinte, atuou como oficial em jogos na Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Na ocasião, não tinha qualquer vínculo com o atual presidente em exercício da CBF.

Sua indicação para atuar em jogos da Conmebol ocorreu em 15 janeiro de 2021, conforme ofício da Secretaria Geral da CBF número 137/2021, sendo este período anterior à posse do atual presidente da CBF, ocorrida em 25 de agosto de 2021. Essa indicação obedeceu integralmente aos critérios técnicos e de governança e conformidade estabelecidos pela entidade sul-americana, a qual o Sr. Gabriel Brandt reportou todas as informações.

No momento da recondução em dezembro de 2021, o próprio Gabriel Brandt, na apresentação da documentação solicitada, informou que era genro do presidente interino da CBF. A CBF, através da Diretoria de Governança e Conformidade, encaminhou em 07 de dezembro de 2021 uma consulta formal sobre o tema à Directoria de Ética y Cumplimiento da CONMEBOL, tendo recebido confirmação expressa de que não há conflito, conforme documento recebido em 09 de dezembro 2021.”, diz em nota.

Com informações da CNN