Núcleo investiga assassinato de PMs na zona Norte de Natal

O Núcleo Especial de Investigação de Mortes de Agentes de Segurança Pública (Nimas) iniciou a investigação dos assassinatos do policial militar da reserva Antônio Carlos Ferreira Lima, 55, e do ex-PM Márcio André de Souza Silva, 45.  Eles foram mortos na noite da segunda-feira (25), no bairro Potengi, zona Norte de Natal, alvejados com tiros de espingarda calibre 12 e pistola. Até a noite de ontem (26), ninguém havia sido preso. As duas vítimas tinham condenações por crimes de homicídio.

A Polícia Civil informou que não havia, por ora, nenhuma informação a ser repassada, nem sobre a linha de investigação, tampouco sobre suspeitos e elementos que identifiquem quem praticou os crimes, como possíveis imagens de câmaras de segurança da rua Gran Pará ou proximidades. Foi lá, próximo à casa da irmã de um dos assassinados que um grupo chegou em um Prisma de cor preta. Ao perceber a aproximação, os dois correram, mas foram alcançados pelo bando que os executou em via pública, onde deixaram os corpos. O carro dos assassinos foi abandonado a poucos metros do local.
Chama a atenção o fato das duas vítimas terem sido condenadas há alguns anos por participação em crimes de homicídio. O sargento reformado, Antônio Carlos Ferreira de Lima, foi condenado a 14 anos de prisão por intermediar a morte do advogado Antônio Carlos de Souza Oliveira. As investigações apontaram que ele foi o responsável por articular o homicídio que ocorreu na noite de 9 de maio de 2013, quando o bacharel foi surpreendido por um atirador enquanto usava o banheiro de um bar no bairro Nazaré, zona Oeste de Natal. Foram quatro disparos.
Segundo a Polícia Civil, a motivação desse crime foi a disputa de terras em São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, envolvendo o advogado e uma terceira pessoa, Expedito José dos Santos, que pediu a Antônio Carlos Lima para se vingar do advogado. Durante as investigações, o homem que efetuou os disparos, Lucas Daniel, alegou ter matado o homem em consideração ao sargento da PM, de quem é amigo e que articulou o crime.
Já o soldado PM, Márcio André, esteve preso por força de um mandado de prisão em flagrante, em 2013, acusado de estar envolvido em um grupo de extermínio, durante a Operação Nêmesis, deflagrada pela Polícia Civil. No dia das mães do ano anterior ele matou o bugueiro José Gomes Timbira, na avenida Amintas Barros, zona Sul de Natal.
De acordo com as investigações da Delegacia de Homicídios (Dehom), Timbira teria prometido matá-lo para vingar o assassinato do seu sobrinho Josemar Gomes, em 20 de setembro de 2010. Josemar, 43, e Charles Paiva da Silva, 29, foram mortos em uma estrada carroçável em Mangabeira, distrito de Macaíba. Além deles, um soldado da PM conseguiu escapar após ser atingido por dois tiros nas costas e denunciou os atiradores. Márcio André foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão e foi expulso da polícia militar do estado ainda em 2010.
Segundo o Comando da PM, o motivo da expulsão foi “por punição disciplinar grave”. Já o sargento reformado, Antônio Carlos Ferreira de Lima condenado por intermediar a morte do advogado Antônio Carlos de Souza Oliveira em 2013, foi afastado das atividades do comando da PM em 2016, sob o argumento de ter adquirido problemas inerentes à atividade policial, que seriam problemas psiquiátricos.
OBVIO suspende divulgação de dados
A Rede de Pesquisa Observatório da Violência não está mais atualizando a pesquisa ativa que permitia a divulgação de dados sobre CVLIs (crimes violentos letais intencionais). Professores da UFRN de quatro departamentos criaram uma rede de pesquisa na universidade, com o objetivo de produzir conhecimento no campo da violência e da segurança pública, promovendo uma mudança de formato do observatório, porém, para que as publicações periódicas continuem ocorrendo, faltam recursos.
De acordo com o professor Járvis Campos, coordenador adjunto do OBVIO, o grupo está estabelecendo convênios com os órgãos (direta ou indiretamente) ligados à área de segurança pública, para ter acesso aos dados oficiais e elaboração de estudos. “O fornecimento de dados para a sociedade, como é o caso da imprensa, não pode ter continuidade sem investimentos para a manipulação de dados e extração e tratamento das informações”, explicou.
O OBVIO foi criado em 2011 para a catalogação de dados e análise criminal de modo a nortear políticas e planejamento em segurança pública. Depois, foi implementado como rede de pesquisa na UFRN.
“A Rede de Pesquisa não atenderá gratuitamente a imprensa com dados muito básicos, com perfil de anuário estatístico, ou seja, dados básicos sobre o quantitativo das CVLIs, dos óbitos, para diferentes órgãos, e isso por falta de recursos. Mas temos produzido muito, como dissertações, teses e publicações no tema, com metodologias mais complexas, que permitem ir além da mera disponibilização de dados básicos para a imprensa. É uma mudança de perfil do observatório”, esclarece o professor Jarvis.