O número de brasileiros em Portugal aumentou consideravelmente nos últimos anos. De acordo com o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) são 183.933 residentes legais no país e grande parte desses brasileiros são estudantes que se mudaram com o intuito de cursar uma graduação.
Como é o caso da brasileira Mônica Dutra, 37 anos, natural de Guaíba (RS). A jovem faz mestrado em educação social pelo IPB (Instituto Politécnico de Bragança) de Portugal. Ela se mudou para o país europeu em 2019 quando foi aprovada para o curso de graduação de engenharia ambiental por meio da nota obtida no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2018.
“Fiquei feliz e ansiosa pela nova etapa. Se der tudo certo, ficarei satisfeita e, se não der, vou ter aprendido muitas coisas”, relata. Já em terras portuguesas, Mônica lembra como foram os primeiros momentos. “O idioma foi fácil de entender, contudo, algumas questões culturais você pega com o tempo. Eu cheguei em um ritmo muito acelerado e só depois fui vendo como as coisas acontecem por aqui”, conta.
A estudante brasileira dá dicas àqueles que querem estudar fora do país. “Faça um planejamento financeiro, busque informações e esteja aberto para conhecer e entender a cultura do outro. Entenda que nada é perfeito, que vai sentir saudades de vez em quando e precisará ser resiliente”, complementa.”Se você aproveitar essa oportunidade por inteiro, vai no mínimo aprender, amadurecer e ampliar seus horizontes”, esclarece a jovem.
Com mais de 2 milhões de visualizações no YouTube, Higor Cerqueira, 26 anos, natural de Duque de Caxias (RJ), tem ganhado notoriedade nas redes sociais por compartilhar experiências da vida acadêmica em Portugal. “Durante o meu ensino médio, eu não sabia que era possível ingressar em uma universidade de Portugal através da nota do Enem”, diz.
O jovem, que na época era aluno do IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), obteve a chance de estudar em Portugal devido a uma mobilidade acadêmica, quando o estudante pode realizar parte dos estudos em outro país. “Na época, por não ter outro parente que morasse fora do país, encontrei dificuldades durante o meu planejamento, pela falta de informações”, lembra.
Foi pensando em resolver esse problema de acesso às informações com os estudos em Portugal que o jovem decidiu fundar a ANEPBP (Associação Nacional dos Estudantes e Pesquisadores Brasileiros em Portugal).
“Eu decidi democratizar o acesso à informação e explicar como as pessoas fazem para vir estudar em Portugal, com ou sem a nota do Enem”, explica.
“É através dos meus vídeos que posso mostrar que não precisa se sentir inseguro por estar em um novo país. Aqui o idioma é o mesmo, a cultura brasileira é muito presente e você acaba se sentindo em casa”, conclui.
Segundo os dados da Direção Geral do Ensino Superior de Portugal, pela primeira vez foram registradas mais de 5.296 matrículas de estudantes estrangeiros no país entre 2019 e 2020, o que representa um aumento de 34% em relação ao ano letivo anterior.
Os dados de 2020 da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior da República Portuguesa também mostram que 26% dos inscritos no ensino superior são estudantes lusófonos, ou seja, vindos de países que têm o português como língua oficial ou dominante.
Roberto Monteiro, gestor responsável do escritório de comunicação do IPCB (Instituto Politécnico de Castelo Branco), localizado em Castelo Branco, cidade portuguesa, esclarece que há um aumento expressivo na procura e também no número de ingressos de estudantes brasileiros no próprio instituto. “Estamos cada vez mais empenhados nos processos de internacionalização com os estudantes estrangeiros, principalmente os brasileiros. Neste ano vamos participar da Feira do Estudante, que tende a aproximar mais os jovens com a oportunidade do estudo no exterior”, comenta.
Outro ponto de destaque é que as universidades públicas de Portugal não são 100% gratuitas como no Brasil, há uma taxa anual para pagamento de aproximadamente 1.350 euros para os cursos de graduação. “Aqui mesmo os alunos nativos pagam essa taxa, que pode variar de acordo com a universidade com condições para parcelamento do valor”, explica.
Os interessados em concorrer a uma universidade em Portugal com a nota do Enem devem realizar o processo de candidatura diretamente pela internet na página da instituição em que querem ingressar. É importante estar atento às informações dos editais que contem quais cursos estão sendo ofertados, bem como o número de vagas disponíveis para participantes estrangeiros.
O ano letivo em Portugal se inicia em setembro. Por esse motivo, quem tem interesse em estudar ainda neste ano deve se atentar ao calendário dos processos seletivos, que terminam no próximo mês, março. “Estamos prontos para receber todos os estudantes brasileiros de braços abertos para que eles possam ter uma experiência única com a imersão cultural e novas possibilidades de conhecimentos nas áreas da agricultura, artes, educação, gestão, saúde e tecnologia”, finaliza Monteiro.
Enem Portugal
Mais de 50 institutos politécnicos e escolas superiores têm acordo interinstitucional com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que garante acesso facilitado às notas dos estudantes brasileiros interessados em cursos de graduação em Portugal. De acordo com as informações do Inep, cabe a cada instituição definir as regras e os pesos para o uso das notas.
Os acordos não envolvem transferência de recursos e não preveem financiamento estudantil pelo governo brasileiro. Outro ponto é que a revalidação de diplomas e o exercício profissional no Brasil dos estudantes formados em Portugal estão sujeitos à legislação brasileira.
As inscrições devem ser realizadas diretamente nas instituições portuguesas. Os inscritos serão chamados conforme o desempenho e os critérios variam de universidade para universidade. Alguns cursos exigem teste de habilidades específicas, o candidato precisa se informar diretamente com a instituição escolhida.
Confira na página do Inep a lista de instituições que aceitam o Enem.