Governo do RN irá restaurar o Cine Panorama e inaugurar sala de cinema pública nas Rocas

Foto: SECULT

O Governo do Rio Grande do Norte, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Fundação José Augusto (FJA), vai entregar para os potiguares uma nova sala de cinema pública em breve. O equipamento é uma reivindicação do setor cultural do RN, que há muito anseia por um local que possa dar projeção a obras produzidas no estado, assim como potencializar o acesso a filmes de circulação nacional que não ganham espaço no circuito mainstream, ficando de fora das sessões em cinemas de shoppings centers, por exemplo.  Segundo a ANCINE (2020), a cidade de Natal possui 21 salas de cinema e, ao lado de Campo Grande(MS), é uma das duas únicas capitais que não possuem cinema de rua.

O antigo Cinema Panorama mantém sua estrutura principal preservada o suficiente para ter sua função original recuperada. Após o encerramento de suas atividades como cinema de rua, como cinema adulto, e como igreja evangélica, o espaço fechou definitivamente. Para voltar a funcionar é preciso que haja uma restauração e modernização do espaço, que está sendo desapropriado pelo Governo do RN e tombado pela Secretaria de Cultura do Estado.

O processo de tombamento, coordenado pela Secretaria da Cultura, passou pela análise técnica do setor de arquitetura da Fundação José Augusto, pela avaliação da Secretaria de Infraestrutura, pela votação do Conselho de Gerenciamento do Patrimônio do Governo do RN e pelo Conselho Estadual de Cultura. A desapropriação e a restauração do prédio serão realizadas com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) 2023, que também custeará a reforma na ação vinculada ao PAAR e ao Plano de Ação PNAB, para obras, reformas e aquisição de bens culturais.

“Dessa forma, o estado atua para deixar a sala pronta, e, assim, com um edital futuro da PNAB, abriremos um chamamento para a gestão do espaço, com atividades de exibição, de formação de público e de envolvimento da comunidade”, informou a Secretária da Cultura, Mary Land Brito.

As negociações com a família proprietária do prédio acontecem desde setembro de 2023, em um processo que envolve, além da Secretaria de Cultura e Fundação José Augusto, a Secretaria da Administração, a Secretaria da Infraestrutura, o Gabinete Civil e a Procuradoria Geral do Estado.

De acordo com a Secretária de Cultura, o recurso utilizado para a reativação do Cine Panorama se adequa à Política Nacional Aldir Blanc, por ser estruturante. Além de reforçar que, por ser um investimento de quase 2,5 milhões, a prioridade é atribuir o recurso a um prédio do estado que fique para usufruto da população potiguar. Os equipamentos de exibição serão adquiridos por meio de emenda parlamentar destinadas pela Deputada Federal Natália Bonavides. É importante mencionar ainda que, quanto ao Teatro de Cultura Popular (TCP), sua reforma se dará também a partir da PNAB 2024.

Em dezembro, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte (CAU/RN) emitiu uma nota manifestando seu irrestrito apoio ao processo de tombamento do Cine Panorama. 

“O Cinema Panorama é símbolo de histórias, afetos e remonta a singularidade de uma época em que as salas de cinema abriam suas portas diretamente para vias públicas”, diz a nota.

Também foi divulgado, no mês de novembro, por meio de um grupo de professoras/es, técnicas/os e estudantes, o pleito a uma sala de cinema pública para a cidade de Natal. O grupo reivindica um espaço onde, a preços populares, possam ser exibidas produções cinematográficas que não costumam ser veiculadas no circuito comercial, diversificando assim a oferta cultural de Natal e seu entorno.

Além disso, o projeto “Aqui Já Existiu Cinema”, que nasceu da junção do trabalho final de graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN de Wire Lima e do projeto de filme-ensaio “Aqui já existiu um cinema” do estudante de Audiovisual da UFRN Anthony Rodrigues, dedica-se a procura ativa de salas de cinemas da cidade, através do resgate a memória dos cinemas de rua de Natal.

Para a secretária, a restauração do Cine Panorama é essencial para garantir o acesso e ampliar a difusão de obras nacionais e locais, atendendo aos pleitos. 

“Mais do que recuperar uma sala de cinema, é a gente, na contemporaneidade, conseguir atender uma demanda que é de agora. Pela primeira vez na história do Rio Grande do Norte, nós vamos ter nove longa-metragens, fora a quantidade de curtas e de videoclipes, além de possibilitar que filmes que circulam no circuito de cinemas de arte, universitários, mostras e festivais, possam acontecer em Natal, uma cidade carente de um cinema com esse perfil”, pontuou.

 

Sobre o Cine Panorama

Uma história viva do audiovisual no coração de Natal, o Cine Panorama abriu suas portas em 29 de janeiro de 1967 no bairro das Rocas, em Natal. Por anos, foi o único cinema do bairro, proporcionando momentos inesquecíveis para a comunidade. Seu primeiro filme exibido foi “007 contra o Satânico Dr. No”.

Localizado ao lado do Hospital dos Pescadores, o prédio foi construído por Luiz de Barros, oferecendo uma alternativa aos moradores locais, que não precisariam mais se deslocar até a Ribeira, Cidade Alta ou Alecrim, onde era maior a concentração de salas de cinema.

Atualmente, a estrutura do prédio se mantém no formato original de cinema, com cadeiras de madeira, contando com mais de 500 lugares para o público. Um mezanino superior abriga espaço para projetor e o primeiro andar do prédio conta com salas para administração e espaço de convivência.

A restauração dará conta de ajustes e melhorias na infraestrutura hidráulica e elétrica e de adequações de acessibilidade, proporcionando um espaço amplo e confortável para a exibição dos filmes.

 

Levantamento

Durante um ano, a Secult realizou reuniões presenciais e on-line com servidores do estado, secretários e responsáveis pelo prédio que abriga o cinema. A equipe também visitou possíveis espaços para abrigar a nova sala, incluindo locais que abrigaram cinemas históricos e outros prédios em prospecção em Natal, e só o Panorama atendeu aos requisitos para sua recuperação enquanto cinema.

Em 2024, a Secretária Mary Land Brito também buscou referências em outros estados, em cada reunião do Fórum de Secretários e Dirigentes da Cultura, e visitou salas de cinema: em João Pessoa (PB), o Cine Banguê, no mês de maio; o Cinema do Museu, em Salvador (BA), em outubro; e em Fortaleza (CE), o Cinema São Luís e o Cinema do Dragão, em novembro.

Durante as pesquisas, a equipe da Secult esteve no prédio onde funcionava o antigo Cine Nordeste, inaugurado em 1958. O cinema encerrou as atividades em 2003, dando lugar a uma loja, fechada em 2008, o que alterou a estrutura original do prédio e impossibilitou sua readequação como sala de cinema.

Outro local visitado foi o prédio que abrigou o antigo Cine Rio Grande, inaugurado em 1949, que em sua época foi considerado o maior cinema de rua de Natal. Funcionando atualmente como igreja evangélica, o prédio também foi modificado e teve sua estrutura descaracterizada como sala de cinema.

Já o Cine Panorama, mostrou-se plenamente viável para recuperação e instalação de uma sala de cinema pública. Assim, as negociações com a família e a busca de recursos se deram a partir de sua identificação.

 

Salas de Cinema no RN

No Rio Grande do Norte, cerca de 80 municípios já chegaram a ter salas de cinema fixas ou em exibição itinerante. Hoje, o número é bem reduzido, e se concentra em shoppings: Natal possui quatro cinemas, Mossoró um, e Caicó também um.