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A organização criminosa Sindicato do Crime, que aterroriza o Rio Grande do Norte desde a madrugada de terça-feira (14), também desafia o poder público com armas e em funks exibidos em vídeos no YouTube sem qualquer tipo de censura.
Homens aparecem atirando em meio a versos com ameaças à polícia e ao PCC, facção criminosa paulista rival do Sindicato. As imagens estão na internet há até sete anos sem nunca terem sido removidas. Um dos vídeos localizados pelo UOL já teve quase 400 mil visualizações.
A reportagem encaminhou o conteúdo para o YouTube e para as autoridades do Rio Grande do Norte na quarta-feira (15). A plataforma de compartilhamento de vídeos disse que está analisando o conteúdo dos vídeos, mas não informou o motivo para não ter removido o material do ar.
“Possuímos uma política contra organizações extremistas ou criminosas violentas, e não é permitido publicar no YouTube conteúdo que apoie, promova ou ajude essas organizações. [Que exalte] seus líderes por meio de músicas ou depoimentos”, diz nota enviada pelo YouTube.
O Ministério Público do Rio Grande do Norte informou que os casos de apologia ao crime serão investigados. Já a Secretaria da Segurança Pública diz que as imagens serão analisadas pela Polícia Civil.
“Poder paralelo”
Nos vídeos, o Sindicato do Crime se identifica como “poder paralelo” e “crime do certo”. Costuma citar um refrão dizendo que o Estado está dominado e se identifica como “18-14”, em referência à posição das letras “R” e “N” no alfabeto, em alusão ao estado onde atuam.
Em uma das músicas em apologia ao crime, o funkeiro debocha: “Pesquisa lá no YouTube”. Depois, segue: “Tá sinistro, é a tropa dos mais forte [sic]. Dominando tudo no Rio Grande do Norte”.
Nas imagens, criminosos aparecem em uma festa dançando enquanto erguem fuzis. Em outro vídeo, um homem atira em direção à rua. “É o trem bala, arrombado”, grita.
A facção também posta vídeos em homenagem ao seu aniversário de fundação. Integrantes da organização criminosa nordestina filmam a comemoração, enquanto soltam fogos de artifício. O Sindicato tem o costume de produzir vídeos comemorativos com funks na data.
“A tropa tá na pista. SDC [sigla de Sindicato do Crime] do RN firme e forte na guerrilha. O Estado tá dominado. Se alemão [inimigo, na gíria] brotar, vai levar aço na cara”, diz trecho de um dos funks no YouTube.
Vídeos também fazem alusão a integrantes da facção
Vários deles citam Alicate, apelido de José Kemps Pereira de Araújo, 45, apontado pelas forças de segurança como o líder do Sindicato do Crime. Suspeito de ser o mentor intelectual dos ataques, ele foi transferido nesta terça-feira de um presídio em Alcaçuz (RN) para uma penitenciária federal.
Há vídeos também com ameaças direcionadas a membros do PCC. Fundado há dez anos por ex-integrantes da facção paulista, o Sindicato do Crime tem expandido a sua área de domínio no Rio Grande do Norte com ações violentas, obrigando os rivais a buscar refúgio em municípios mais afastados da capital Natal.
“O sistema carcerário tá todo dominado. Se você for PCC, vai ser esquartejado”, diz trecho de funk.
Facções que atuam em outros estados também fazem apologia ao crime em vídeos
Há conteúdo de grupos criminosos como o PCC; o Comando Vermelho, do Rio; a Família do Norte, do Amazonas; e a Okaida, da Paraíba. As facções também exibem mortes e agressões a desafetos, em vídeos que chegam a ter mais de um milhão de visualizações e com mais de cinco anos na rede.
Sem filtros para detectar apologia ao crime, diz especialista
Raquel Saraiva, presidente do Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife, diz que o YouTube não tem filtros adequados para detectar casos de apologia ao crime, apesar de ter regras estabelecidas contra organizações criminosas violentas.
“Eles estão descumprindo uma política da própria empresa, que já classificou isso como danoso. Então, não deveria estar por tanto tempo no ar sem ter qualquer tipo de moderação”.
Segundo especialistas que defendem a criação de uma lei para responsabilizar as plataformas onde são publicados conteúdos de teor criminoso, a propagação desse tipo de conteúdo sem qualquer tipo de censura é recorrente.
UOL