Foto: Divulgação/Flickr/MST
Depois de um recuo tático durante a gestão Bolsonaro, em que praticamente abandonou as invasões, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) busca, com a volta de Lula ao Palácio do Planalto, recuperar a influência que mantinha no governo nos anos petistas.
Apesar da proximidade histórica com o PT, o movimento garante que fará pressão se o programa de distribuição de terras não for retomado. Na largada, já há insatisfação pela demora na indicação do novo presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão subordinado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Segundo integrantes do grupo, uma das consequências é a permanência de nomeados pela gestão anterior no comando de superintendências regionais.
João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, diz que a indefinição, após mais de 50 dias de governo, faz com que a “luz amarela” na relação com o governo se acenda:
— Sem nomeação, não temos diálogo com o governo. O ministério cuida dos temas gerais da agricultura familiar, mas a questão da terra é com o Incra. Precisamos da indicação da direção para retomar o programa de reforma agrária.
Rodrigues ainda lembra que há questões pendentes em assentamentos, como instalação de água encanada ou escolas, que estão paradas desde o governo Dilma Rousseff (2011-2016) e dependem do Incra. Procurada, a pasta disse que o presidente do Incra será anunciado amanhã.
Criado em 1984, o MST viveu o auge de suas ações durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Nos anos Lula, o movimento manteve inicialmente o ritmo de invasões, que com o tempo foram reduzidas. No governo Dilma, as desapropriações de terra foram reduzidas, mas, na mesma época, o MST passou a se voltar para a produção de alimentos sem uso de agrotóxicos.
Durante a gestão Bolsonaro, o movimento optou por evitar embates diretos e praticamente cessou as invasões, ao mesmo tempo em que buscava de forma mais intensa o apoio da classe média urbana com a sua política de venda de produtos saudáveis.
Agora, o MST cobra do novo governo um compromisso com uma reforma agrária agroecológica, com foco em alimentos saudáveis. O plano é retomar mobilizações em abril e voltar a promover invasões se, até lá, o governo não der sinais de que vai iniciar desapropriações.
O Globo