Foto: Isabel Infantes/AFP
Os moradores do Soho, bairro icônico de Londres conhecido por sua intensa vida noturna, não aguentam mais o cheiro de xixi nas ruas. Boa parte do quase 1 milhão de libras que a capital britânica usa para limpeza urbana todo ano é destinada à lavagem da urina acumulada sobre muros e calçadas.
Um projeto apresentado pelo Conselho Distrital de Westminster quer impedir a prática utilizando um recurso para, em alguma medida, se vingar dos homens que costumam se aliviar na rua.
Trata-se de uma “tinta antixixi”, que promete repelir a urina em locais públicos, fazendo com que ela respingue mais e atinja, por exemplo, as roupas de quem está descumprindo as regras. A substância é transparente, de modo que boêmios apertados não possam identificar em que área seria “seguro” urinar.
A proposta peculiar foi uma resposta a mais de 3.000 reclamações da população ao Legislativo local e se inspira em experiências semelhantes na Alemanha. “Obviamente, a urina não é agradável. Nossos moradores estão com raiva”, disse Aicha Less, que tem cargo equivalente ao de vereadora, à agência de notícias AFP. “Vamos ver a diferença em seis meses e se vai haver menos odor”, acrescentou, defendendo o direito “a viver num ambiente limpo e seguro”.
No Soho, há placas pintadas com avisos como “esta parede não é um mictório”. Os alertas se somam à legislação londrina, que pune com multas de 50 a 80 libras quem trata locais públicos como banheiro.
Segundo Tim Lord, dirigente de uma associação de moradores do Soho, há mais de 400 estabelecimentos no bairro com autorização para a venda de bebidas alcoólicas. Pelo menos cem deles ficam abertos até de madrugada. “À noite há milhares de pessoas bebendo aqui e, neste verão [do hemisfério Norte], o Soho fedia. Se a tinta antixixi funcionar, vai reduzir o problema das ruas malcheirosas, e isso é algo que deve ser apreciado.”
Embora o Soho tenha vários mictórios portáteis distribuídos em pontos estratégicos nas noites de quinta-feira a domingo, banheiros públicos praticamente desapareceram: alguns foram fechados durante a fase mais crítica da pandemia de Covid e não reabriram quando a crise sanitária foi amenizada.
Na visão de Lord, é um “problema inglês”. “Você não precisa viajar muito na Europa ou na América do Norte para encontrar banheiros públicos limpos e bem administrados. O Soho é uma região histórica importante de Londres, construída nos anos 1650. Só queremos que nosso conselho cuide disso.”
Estadão Conteúdo e AFP