Reprodução
Lojistas da Americanas começaram, desde ontem, a aumentar consideravelmente os seus preços nos sites da empresa para tentar impedir uma venda maior e ficar com recebíveis de cartões presos na companhia. A expectativa de pedido de recuperação judicial (RJ), hoje confirmada com a entrada dos documentos na Justiça, levou a esse movimento.
O Valor identificou essas mudanças após alterações em ofertas de produtos (como eletrônicos), cruzadas com informações dos próprios vendedores confirmando a decisão em grupos de mensagens voltados para discutir a crise na empresa.
O que pode parecer um contrasenso é reflexo da decisão de a empresa informar, antecipadamente, que analisava dar entrada em pedido de recuperação judicial, “nos próximos dias ou horas” —, após mencionar as ações dos bancos, na Justiça, buscando reter ou capturar recursos do caixa da rede.
Normalmente, as companhias não avisam de forma antecipada ao mercado que pretendem entrar com pedido de recuperação judicial, até para evitar reações deste tipo. Mas como a situação da empresa se deteriorou rapidamente nas últimas horas, a companhia teve que se manifestar publicamente antes de protocolar o pedido.
“Há ‘sellers’ [lojistas] colocando preços absurdos para não vender. Ele não desliga a loja, mas também não corre o risco de vender lá”, diz uma fonte.
Num dos anúncios alterados, há notebooks da Dell, top de linha, no valor de pouco mais de R$ 19,2 mil no site da Americanas, sendo que no KaBuM!, do Magazine Luiza, o mesmo item custa R$ 11,1 mil, afirma uma fonte.
Um segundo lojista, oferece notebooks importados por até R$ 40 mil no “app” da Americanas, sendo que o preço médio dele na Amazon está em R$ 20 mil.
A operação de marketplace da companhia (venda de itens de terceiros) responde por cerca de 65% das vendas totais brutas. O restante refere-se ao estoque próprio.
Em grupos de mensagens instantâneas, a situação é vista também em eletrodomésticos e portáteis. “Meu medo é bloquearem meus créditos e eu não receber com uma recuperação judicial”, disse um lojista de São Paulo, no grupo.
Teoricamente, esses créditos ficam fora de processo de recuperação judicial. Mais recentemente, uma decisão relacionada à recuperação judicial da Livraria Cultura trouxe um alerta ao mercado. Ao analisar um recurso apresentado pela companhia, a Justiça de São Paulo entendeu que a livraria poderia reter parte dos recebíveis de suas vendas com cartões de crédito, embora esses ativos sejam garantia de empréstimos bancários e estejam fora da recuperação judicial.
Os vendedores não fecham imediatamente suas contas num marketplace pela complexidade desse processo, e por isso, inicialmente, preferem mudar preços ou condições de frete para tornar a venda pouco interessante ao consumidor.
O Valor apurou que a empresa enviou a lojistas um comunicado dias atrás. A nota diz que “as vendas continuam acontecendo normalmente”, assim como a expedição e coleta — no marketplace, a Americanas oferece serviços de distribuição e logística aos vendedores.
A Americanas afirmava, antes da recuperação judicial pedida, que continuaria fazendo repasses das vendas aos lojistas.
Os vendedores não fecham imediatamente suas contas num marketplace pela complexidade desse processo.
Valor Econômico