A CBF está procurando desesperadamente por um novo treinador para o lugar de Tite. Tem dinheiro para pagar, mas não tem opções. Pensa em nomes no Brasil e fora dele, mas, por ora, todos estão distantes. Nunca teve peito para arriscar. Trabalha com técnicos consagrados ou de sua confiança. Parece um caso sem importância do futebol brasileiro, mas não é. A situação é das mais graves das últimas décadas envolvendo a seleção pentacampeão do mundo.
Nesta semana, um jornalista francês comentou sobre Zidane. Um bom nome, mas que não passou de uma sugestão de alguém do outro lado do Atlântico. Virou manchete. E aí o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, vai anotando e vendo as possibilidades. Uma situação pra lá de amadora. Não há formação nem convicção de nada. Tem tempo para a escolha: março, quando o time deve voltar a se reunir para amistosos. O que não há são opções claras.
Tite e sua turma implantaram um sistema de trabalho que não necessariamente precisa ser seguido, o de dar expediente na sede da entidade para fazer sabe-se lá o quê. Anotar rendimento, pesquisar nomes, falar com dirigentes, mapear condicionamento…
A falta de opção de um treinador para a seleção brasileira é culpa dos próprios dirigentes de clubes e da torcida. São eles que não conseguem formar profissionais em seus respectivos times. Os cartolas são reféns dos torcedores. Só se impõem quando os resultados de campo estão dando certo. A cultura do imediatismo impera na conduta desses senhores e senhoras eleitos para comandar. Basta uma série de derrotas para a pressão aumentar e eles se renderem a ela, como se a mudança no comando técnico fosse também mudar a situação da equipe.
Ocorre que, quando interrompem um trabalho no começo dele, estão matando a formação dos técnicos, suas ideias e uma conduta que pode render frutos com o tempo. O futebol brasileiro tem aprendido com isso da pior maneira possível. Mas já há alguns dirigentes mudando essa forma amadora de comandar. Isso é bom para a formação dos treinadores brasileiros. Mas leva tempo. A safra de técnicos é péssima, mas ela pode ser mais bem cultivada.
O Brasil precisa achar um jeito de formar novos e bons treinadores. Nossos ‘professores’ não são piores do que os treinadores europeus, por exemplo. A troca de conhecimento é enorme e constante. O problema é a falta de confiança dos nossos profissionais, a enorme pressão do dia a dia e a eterna desconfiança. São todos lixos na opinião de muitos.
O treinador de futebol brasileiro não sorri, já reparou isso? Ele ganha bom salário, mas parece estar sempre indo para a forca, sempre tentando fazer um último pedido antes de morrer. Muitos deles têm de convencer, além dos jogadores do elenco, os diretores imediatos e o presidente do clube sobre o seu trabalho. Tem ainda a torcida. Se o treinador não cair na graça dos torcedores, já era para ele. Isso vai gerar mais cara feia e mais pressão. A torcida pressiona o presidente, que pressiona o diretor de futebol, que pressiona o treinador, que pressiona o elenco. Não há como dar certo. Esse roteiro é comum no futebol.
Essa pressão toda fez o Brasil parar de produzir bons treinadores, inclusive para a seleção. O técnico era a última fronteira que aproximava o torcedor do time nacional. Vindo de fora, essa fronteira cai. Os jogadores já atuam lá fora. Com um técnico estrangeiro, teremos, em breve, de apresentar o time para nossos filhos. O grito não é contra estrangeiros no comando, longe disso, até porque parece consenso que o português Abel Ferreira faz um ótimo trabalho no Palmeiras, como fez Jorge Jesus no Flamengo. E outros no futebol brasileiro. A questão aqui é como o Brasil vai formar treinadores competentes sem dar a eles tempo para mostrar sua competência.
Também parece que foi consenso o fato de os argentinos terem torcido o nariz quando a AFA (Federação Argentina de Futebol) escolheu Lionel Scaloni para comandar o time de Messi. Hoje, todos pedem para ele ficar no comando da seleção. Então, o futebol brasileiro tem de achar um caminho para voltar a ter treinadores de respeito. Não temos mais. Essa formação envolve mudança de mentalidade de presidentes e de torcedores.
Estadão