Foto: José Méndez/ EFE
O treinador brasileiro não soube se valer de sua segunda Copa do Mundo e da experiência e dissabores de uma competição de tiro tão curto, em que errar sempre significou o fim de linha, como aconteceu diante da Croácia, de novo, nas quartas de final. Portanto, Tite sucumbiu abraçado ao seu elenco no segundo mata-mata após a fase de grupos no Catar, em que o time ficou em primeiro lugar, com duas vitórias e uma derrota. Na Rússia, também sob o seu comando, aconteceu a mesma coisa com a seleção brasileira: derrota para a Bélgica por 2 a 1 antes de chegar à semifinal.
Agora, a seleção brasileira vai permanecer 24 anos sem ganhar uma Copa do Mundo, mesmo período do tri, em 1970, para o tetra, em 1994.
Tite dá adeus ao comando do Brasil com dois fracassos em Mundiais, e seis anos seguidos de trabalho, coisa rara no comando do Brasil. Mas a CBF teve tantos problemas nesse ciclo, com afastamento de seu presidente, por exemplo, que o futebol ainda conseguiu passar ileso nas Eliminatórias. Ocorre que os jogos na América do Sul não servem mais de parâmetro para o Brasil em Copas.
O técnico deve descansar por um tempo e seguir sua carreira fora do País, provavelmente no meio do ano que vem. Tite terá de reconstruir sua profissão em clubes.
No Catar, ele teve chances de acertar a seleção, de resgatar a paixão do torcedor pelo time nacional e sempre trabalhou com total liberdade para encampar suas ideias e escolher seus jogadores. Tite apostou em manter atletas de sua confiança e de trabalhar um estilo de jogo precavido. Errou em alguns nome da lista e em ter escalado 11 reservas contra Camarões, perdendo para o rival africano por 1 a 0. Ele demorou para soltar o time. Fez isso contra a Coreia do Sul e o resultado foi excelente.
Mas não conseguiu transformar nenhum jogador em grande estrela, nem mesmo Vinicius Junior, que arrebenta no Real Madrid e é reverenciado na Europa. Todos eles ficaram mais uma vez à sombra de Neymar. Tite deixa a seleção e leva embora da CBF toda a sua comissão. Aponto alguns erros do treinador.
Se embananou todo quando soube que não teria Neymar, machucado na estreia. Tanto não sabia o que fazer que resolveu escalar um time reserva contra Camarões e perdeu o jogo. Os titulares perderam o ritmo e a adrenalina natural de uma Copa. Errou na gestão das partidas, portanto. Depois das oitavas, o Brasil teria quatro dias para reparar o condicionamento físico e descansar. Foi salvo pela apresentação contra a Coreia do Sul.
Tite sempre defendeu a não dependência de Neymar, mas nunca preparou nenhum outro jogador para assumir o comando técnico da seleção na ausência do craque do PSG. Todos os jogadores sempre ficaram à sombra do camisa 10 e o treinador nunca trabalhou a contento para formar outro em seu grupo nesses seis anos.
Tite matou os atacantes com pedidos de marcação total. Gabriel Jesus não chutou uma bola a gol antes de ser cortado, por lesão. Richarlison teve duas chances na estreia e depois não foi mais acionado contra a Suíça. Vini Jr e Raphinha eram obrigados a acompanhar as investidas dos rivais pelas pontas. Paquetá virou volante ou quase isso. Tite só deu liberdade para eles na partida contra a Coreia do Sul. Ele sempre tirou a essência de seus homens de frente. Se não de todos, der alguns.
A proposta de time equilibrado não se confirmou contra a Croácia. O Brasil tem sofrido com situações de defesa e erros individuais em Copas. Nas oitavas, havia muitos problemas no setor defensivo, com atletas fora de posição, casos de Danilo e Militão, improvisados. Eles até deram conta. Mais uma decisão de elenco, Tite vai carregar para sempre: a convocação de Daniel Alves.
Tite não mudou em quase nada seu trabalho da Copa da Rússia para a Copa do Catar. Mais uma vez, um treinador do Brasil foi enganado pelos resultados das Eliminatórias e das partidas mais fáceis da fase de grupos e oitavas. Pior. Quando tudo parecia bem após dois jogos, ele abriu as portas da seleção para as primeiras críticas com a derrota para Camarões. Deveria ter mantido alguns titulares no time e vencido o jogo. Na pontuação, isso não mudaria em nada a colocação do Brasil, mas daria mais confiança e ânimo aos jogadores. Com o fracasso diante dos africanos, as primeiras cobranças apareceram. Ainda bem que o time se recuperou diante da fraca Coreia do Sul.
Tite se perdeu também com Neymar. Pediu socorro ao jogador para ele atuar nas oitavas, quando poderia ter se machucado novamente no mesmo tornozelo direito baleado. Fosse em outra situação, com o time mais entrosado sem seu camisa 10, talvez Neymar nem precisasse atuar, correr riscos em campo.
O treinador construiu uma fila de reservas e por nada mudou isso. Pedro poderia ter sido mais útil do que Gabriel Jesus antes de seu corte. Everton Ribeiro é criativo e inteligente, mas ficou lá atrás na ordem de entrada. Jogou pouco. Time morreu abraçado com suas ideias. Nunca entendeu o que é jogar uma Copa em 30 dias.
UOL