A novela “O Rei do Gado” está de volta às tardes da TV Globo no “Vale a Pena Ver de Novo”. Exibida originalmente entre junho de 1996 e fevereiro de 1997, a trama rendeu ameaças ao autor Benedito Ruy Barbosa.
Foi a primeira vez que uma novela abordou a reforma agrária no campo brasileiro e o Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST). O tema ganhou ampla projeção nacional e desagradou fazendeiros.
Além disso, a novela estreou em um momento de tensão. Ela chegou ao ar apenas dois meses após o Massacre de Eldorado do Carajás, quando 21 trabalhadores sem terra morreram enquanto reivindicavam a desapropriação de uma fazenda e a implementação de ações para garantir a Reforma Agrária no Pará, segundo o MST.
Em depoimento ao livro, Benedito contou que, no auge da discussão sobre o MST, recebeu uma carta em casa, sem assinatura, em tom de ameaça: “Parabéns pelo que você arranjou. Sou fazendeiro e se aparecer alguém aqui como os de sua novela, aumento o muro três metros para ninguém sair mais”.
Uma das cenas que revoltou os fazendeiros foi a morte do personagem senador Caxias (Carlos Vereza) — assassinado defendendo os sem-terra. Na época, o autor disse que a doença e a tensão causada pela questão fundiária o exauriram.
“Foi a novela mais tensa que já fiz. Primeiro, adoeci, tive problemas de coluna, e atrasei os capítulos. E, por estar mexendo com os sem-terra, sempre andei na corda bamba, tentando conduzir a trama sem criar atritos”, contou o autor em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em janeiro de 1997.
“Houve muita incompreensão. Eu recebi cartas de sem-terra elogiando a novela, dizendo que iria ajudar a causa deles. E recebi também cartas de sem-terra achando ruim, porque estava pregando a não-invasão de propriedades produtivas. E, de outro lado, recebi muitas cartas de fazendeiros, dizendo que eu estava incentivando a invasão de terra, quando fiz o contrário”, completou.
Críticas de políticos
Benedito também recebeu críticas de políticos pela forma que representava o trabalho dos parlamentares. Na trama, o senador Caxias protagonizou uma das cenas mais emblemáticas ao fazer um discurso sobre os sem-terra para um plenário com apenas três colegas.
No dia seguinte em que foi ao ar, porém, o então senador Ney Suassuna (então PMDB, hoje Republicanos) criticou a abordagem da produção e classificou a cena como uma “distorção da realidade”. De acordo com o Memória Globo, ele teria dito que a cena induzia a população a acreditar que não havia senadores honestos no Brasil.
A inclusão de temas sociais e políticos à novela global preocupou até mesmo Boni, o diretor criativo da emissora na época. O chefão ligou para o autor para saber o motivo de os sem-terra estarem na trama.
“Um dia, o Boni me ligou muito bravo porque eu coloquei os sem-terra na trama. Ele queria saber o porquê de não aparecer essa informação na sinopse”, disse Benedito Ruy Barbosa em depoimento ao livro “Biografia da Televisão Brasileira” (2007).
Como é a trama central?
“O Rei do Gado” mostra o romance do latifundiário pecuarista Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) com a boia-fria Luana (Patrícia Pillar), ambos descendentes de duas famílias de imigrantes italianos rivais, os Mezenga e os Berdinazzi, que fizeram fortuna no Brasil com criação de gado e plantações de café, respectivamente.
É a terceira vez que a trama é reprisada nas tardes da Globo. As outras duas exibições foram em 1999 e 2015.
Com informações do Splash/UOL