A documentarista e produtora cultural Mônica MacDowell volta a mostrar São Miguel do Gostoso para o mundo. Ela lançou o seu novo curta-metragem documental “A Deus Querer”, no 16º Festival Internacional de Cine Documental Del Uruguay – AtlantiDoc, no último domingo (16). O festival acontece anualmente no Uruguai com o objetivo de apresentar um panorama de novas produções documentais, trazendo ao país os melhores e mais diversos materiais do gênero, bem como a formação de cineastas documentaristas na região.
“A Deus Querer” é o segundo curta-metragem da trilogia poética produzida e dirigida por Mônica Mac Dowell a respeito dos múltiplos personagens que vivem na pequena Comunidade do Reduto, localizada no Município de São Miguel do Gostoso. O filme é narrado em primeira pessoa e conta a história de vida de Seu Dadá, marcando em definitivo a inscrição poética, o traço estilístico e a forma lúdica e sensível que a diretora encontrou para contar histórias sobre um local que costuma ficar de fora dos roteiros turísticos de Gostoso.
O documentário é uma elegia à natureza e à vida campesina, onde a câmera do celular de Mônica visita e perscruta, com muita delicadeza, o universo do personagem Seu Dadá, o protagonista do filme. A documentarista atribui ao filme uma sintaxe muito particular e uma semântica infrequente – ao gênero documentário – concedendo ressonância social ao sujeito retratado, respeitando a sua identidade e a sua história corriqueira e prosaica.
A edição do documentário segue uma estrutura fílmica que faz lembrar a técnica presente na montagem de atrações, em que as ações da personagem são escolhidas de forma aleatória e de modo arbitrário, para promover um andamento narrativo não linear entre a realidade, a memória, e o desejo da personagem.
A trilha sonora, composta por Valéria Oliveira, segue a mesma abordagem não linear da narrativa fílmica, e está em absoluta consonância com a história da personagem e com a montagem. Valoriza a função sensorial do espectador e se inscreve no lugar do silêncio, das pausas, dos pensamentos e dos desejos de Seu Dadá.
Por meio da sua subjetividade estética e do olhar da sua câmera, Mônica Mac Dowell inscreve mais uma vez, ao seu documentário, uma métrica social inclusiva, que mostra a vida simples e cotidiana do protagonista, atribuindo a ele e ao seu ofício, uma condição de existência mítica e biográfica.
A viagem de Mônica pelo mundo real de Gostoso começou com “Rosa de Aroeira”, curta que foi lançado em março de 2020 no Festival Macambira, em Natal. Nessa obra, ela exibiu as histórias de vida e luta de quatro mulheres trabalhadoras da Comunidade do Reduto. O filme teve ótima repercussão, e foi selecionado para participar do Los Angeles Brazilian Film Festival, dentro da mostra competitiva BWIE – entre outros eventos audiovisuais.
O AtlantiDoc de 2022 está ocupando 12 salas de cinema do país e dois canais de televisão, que exibirão os filmes selecionados de 18 países. Do Brasil, foram selecionados sete filmes. Além de “A Deus Querer”, tem os longas “Maria – Ninguém sabe quem sou eu”, filme de Carlos Jardim sobre Maria Bethânia; “Lavra”, de Lucas Bambozzi; “Biocéntricos”, de Fernanda Heinz Figueiredo y Ataliba Benaim; “Pasado mañana”, de Gabriel Panazio; “Hilo de afecto” de Bianca Lenti e “Germinó pétalos en el asfalto”, de Coraci Ruiz e Júlio Matos.
O curta-metragem “A Deus Querer” tem o patrocínio da Lei Aldir Blanc, do Governo do Estado, Fundação José Augusto, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo, e Prefeitura do Natal, através do Programa Djalma Maranhão.
Tribuna do Norte