Mesmo com grande potencial de geração de energia eólica offshore no país e no mundo, o Rio Grande do Norte está ficando para trás na corrida pela produção de hidrogênio verde (H2V), considerado o combustível do futuro. A ausência de um porto adequado para atender a demanda dessa nova atividade, o coloca em desvantagem com os vizinhos. A Bahia já está recebendo a primeira fábrica desse combustível com investimentos de US$ 120 milhões. Já em Pernambuco, o Complexo Industrial Portuário de Suape vai acomodar um TechHub Hidrogênio Verde. No RN, a construção do porto-indústria é apontada como fundamental para essa nova conquista na produção de energia renovável. Porém, o aporte de recursos bilionários investimento alto é uma dificuldade e um desafio para o RN.
O Estado deverá buscar investimentos de R$ 6 bilhões para a implantação de um porto indústria multiuso, por intermédio do qual deverá haver a movimentação dos equipamentos para os parques de energia eólica offshore (no mar), prestes a serem instalados no litoral da região. O porto atenderá ainda atividades já consolidadas no Estado e que precisam melhorar sua infraestrutura, a exemplo do petróleo e da pesca. Além disso, a estrutura servirá para o transporte marítimo de outras cadeias produtivas que estão em formação, como a do hidrogênio verde.
O secretário estadual do Desenvolvimento Econômico do Estado, Sílvio Torquato, explicou que, diferente do que propõem os estados do Pernambuco e da Bahia, que pretendem adaptar seus portos (originalmente destinados a outros fins), o Rio Grande do Norte planeja a construção desse novo porto, estrategicamente localizado e completamente pensado e preparado para lidar com as demandas de tecnologia e inovação para esta indústria, além de abranger soluções para outras áreas deficitárias no que tange o escoamento de produtos potiguares.
“Este é o primeiro passo para viabilizar a produção de energia eólica no mar e, por conseguinte, o hidrogênio verde. Atualmente, apesar de ser o atual líder no segmento eólico e seguir atraindo grandes empresas interessadas nos investimentos offshore, o Rio Grande do Norte não possui nenhuma estrutura portuária com capacidade de adaptação para receber essa indústria”, enfatizou Torquato.
Como grande produtor de energia eólica, o Estado se coloca como candidato a receber plantas de produção de hidrogênio e amônia verdes, mas, para atingir esse objetivo, precisa dispor de uma infraestrutura de grandes proporções, que abarque diversos produtos e serviços em um mesmo espaço físico, o que demanda não apenas grandes investimentos, mas também estudos de viabilidade técnica e impacto sócio-ambiental.
Contudo, ele pontua que o Estado não está parado na corrida pelos investimentos em hidrogênio verde. Além dos estudos para a construção de um novo porto adequado para a atividade, em maio de 2021 o governo do Estado instituiu um Grupo de Trabalho (GT) para estabelecer as diretrizes e as bases para o desenvolvimento de um hub para produção e exportação de hidrogênio e amônia verde. “Já em março de 2022, a partir de uma parceria entre o GT e a UFRN, foi apresentado um documento elaborado que prevê 53 ações voltadas ao desenvolvimento de uma estrutura de produção e exportação de hidrogênio verde no RN”, diz Torquato.
“O governo do Estado firmou convênio com a Fundação de Pesquisa da UFRN (Funpec), para a elaboração dos estudos que irão apresentar a localização ideal para a instalação de um porto-indústria, como também seu valor estimado de investimentos, impactos ambientais, etc”, disse o titular da pasta, Sílvio Torquato.
Em seguida, serão realizados os estudos ambientais, abrindo caminho para a chegada dos investimentos necessários, que serão feitos na forma de parceria público-privada. Os estudos de viabilidade econômica e ambiental para a instalação do empreendimento foram apresentados em reunião interna nesta semana à diretoria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), pelo secretário e pelo professor Márcio Orestes Aguirre González, que integra a equipe conveniada de pesquisadores da UFRN. O governo do Estado planeja a mesma apresentação na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), também em agosto.
A iniciativa é parte da estratégia para obter investimentos privados, uma vez que exigirá recursos bilionários. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, o governo do RN trabalha ativamente nessa frente e já assinou protocolos de intenções com algumas empresas interessadas em investir no desenvolvimento do terminal marítimo, como é o caso das chinesas Spic e CCCC, e da dinamarquesa, Vestas.
“É importante destacar que, entre os principais geradores de energias renováveis do Brasil, o RN é o único estado atualmente com oferta excedente, ou seja, produz mais do que consome e exporta energia limpa. Portanto, as empresas que se instalarem na área industrial do porto, seja para produzir torres e componentes, seja para instalar plantas offshore ou produzir hidrogênio e amônia verdes, se beneficiarão deste grande potencial na costa potiguar”, prevê Sílvio Torquato.
Mello destaca que o porto-indústria no modelo que a CTG precisava, o Rio Grande do Norte não tem, pois as características do terminal marítimo de Natal são diferentes. “O nosso Porto tem característica de exportação de pescado e fruta igual a nenhum outro no Brasil. O Rio Grande do Norte possui, sim, ótimas condições para geração de energia e armazenamento sobre a forma de hidrogênio, tanto que somos líderes de produção de energia eólica em terra e reunimos as melhores características para iniciar o que se apresenta como uma nova fronteira de atração de energia no Brasil, que é o offshore, ou seja, produção de energia no mar”, pontuou o diretor do CTGAS-ER e ISI-ER.
Parte dos projetos da CTG, destaca Mello, tem impacto em exportação, tem relacionamento com outras indústrias. “Então a CTG resolveu instalar no Porto de Suape, facilitando, na lógica dela, as conseqüências tecnológicas desenvolvidas nesses projetos. Mas o serviço de desenvolvimento, a condução tecnológica da pesquisa, o desenvolvimento da ciência envolvida, serão feitos pelo Senai do Rio Grande do Norte na base física por uma conveniência do modelo do Porto de Pernambuco”, explicou.
No TechHub de Pernambuco, o Senai/RN ficou com a maior parte do investimento do empreendimento. Dos R$ 45 milhões, mais de R$ 25 milhões serão aplicados em dois projetos da entidade que deve proporcionar o resultado tecnológico e a condição da inteligência do negócio. “Temos um um projeto maior, que vai fazer a análise de algumas tecnologias de processo industriais e depois desenvolver soluções para uso em eletromobilidade; e, num segundo projeto, nós vamos desenvolver soluções para tornar o ambiente de quem vai trabalhar numa planta industrial de hidrogênio”, explicou Rodrigo Mello.
Com isso, será concentrada em Suape a implementação de projetos inovadores focados na produção, transporte, armazenamento e gestão de H2V. Os projetos receberão, inicialmente , R$ 45 milhões. O complexo de Suape atende a uma necessidade para a produção do hidrogênio verde que há muito se cobra no Rio Grande do Norte: a capacidade logística de escoamento da produção. Para conectar as iniciativas de investimento nas plantas piloto do TechHub, será desenvolvida uma plataforma digital de comercialização para o combustível.
Outro Estado que avança na corrida pelo H2V é a Bahia, que vai receber a primeira fábrica desse combustível a ser instalada pela petroquímica multinacional Unigel, que investirá US$ 120 milhões na primeira fase do projeto. Essa etapa prevê uma capacidade de produção de 10 mil toneladas de hidrogênio verde por ano. A pedra fundamental do projeto no Polo Industrial de Camaçari (BA) foi lançada na semana passada e a previsão é que a fábrica entre em operação até o final de 2023, com capacidade de produzir 60 mil toneladas de amônia verde por ano.
O Ceará também segue na corrida. O governo cearense fez acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e a Universidade Federal do Ceará (UFC) para construir um hub de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Agora, busca atrair investidores para a produção do H2V. Até meados de abril passado, 17 memorandos de entendimento para a criação de usinas foram assinados com empresas nacionais e estrangeiras. Outros quatro estão em andamento.