O médico potiguar Márcio Robertti Ramalho da Cunha, neurocirurgião especialista em cirurgia vídeo endoscópica da coluna, executou uma cirurgia inédita na Europa durante o congresso anual NSpine 2022, que aconteceu na cidade do Porto, em Portugal, no período de 31 de maio a 06 de junho deste ano. O congresso trata de patologias da coluna sob o aspecto de novas tecnologias.
O convite veio da parte de Oscar Alves, médico português, já que o profissional potiguar detém expertise em cirurgia por via endoscópica da coluna. O procedimento foi realizado em uma paciente no Hospital de Vila Nova de Gaia.
O médico potiguar já fez várias palestras em eventos internacionais, o que despertou a curiosidade e interesse do médico português que o convidou para uma demonstração ao vivo no evento. Márcio Ramalho explica que essa abordagem de procedimento é basicamente uma cirurgia de vídeo endoscopia, a exemplo das cirurgias similares por vídeo laparoscopia que abordam a cavidade abdominal, cirurgias urológicas, e algumas cirurgias cerebrais.
Segundo ele, é uma cirurgia realizada através de uma incisão menor do que um centímetro em um acesso cirúrgico uniportal, por uma cânula, introduzida em um canal de trabalho por onde se faz a instrumentação cirúrgica. Esta técnica permite tratar as hérnias de disco da coluna, canal estreito da coluna (estenose) como também os tumores benignos da coluna, os chamados ‘schwannoma’ – que muitas vezes são frequentes em pacientes idosos. Assim, por meio desta incisão de um centímetro, que leva apenas um ponto de sutura, é possível retirar um tumor de dois até quatro ou cinco centímetros.
“Há alguns anos, as cirurgias eram feitas a partir de incisões abertas, o que provocava muita lesão nos tecidos até chegar ao alvo cirúrgico. A cirurgia de vídeo endoscopia na coluna traz as mesmas vantagens de todas as cirurgias por vídeo endoscopia que é alcançar o mesmo objetivo da cirurgia aberta, só que diminuindo as lesões dos tecidos no acesso, além de minimizar aderências pós-cirúrgicas, diminuir o risco de infecção, e obter menor perda de sangue durante o procedimento, e uma alta hospitalar mais precoce, menor necessidade de uso de medicamentos… essas são algumas das vantagens”, relatou.
De acordo com o neurocirurgião, a vídeo endoscopia de coluna começou tratando hérnia de disco e depois expandiu para uma doença do idoso, a estenose ou canal estreito, que seria a terceira fase daqueles pacientes que tem hérnia e, com o envelhecimento, desenvolvem a estenose de canal. Há quatro anos, Márcio Ramalho começou a fazer também a abordagem dos tumores da coluna por essa técnica. Hoje, no ocidente, quem tem a maior experiência e detém a maior estatística de abordagem desses tumores é o médico potiguar. Ele vem desenvolvendo materiais que facilitam ainda mais a ressecção destes tumores. Em Portugal, foi a primeira vez que a cirurgia aconteceu no continente europeu.
O médico, que atua na clínica Trauma Center, ainda enaltece a importância de um potiguar se destacar na medicina, participar de eventos como a NSpine e ainda realizar procedimentos inovadores no mundo. Para ele, há cerca de trinta anos o conhecimento era algo restrito aos grandes centros do país, como nas regiões Sul e Sudeste.
As técnicas e abordagens inovadoras sempre chegavam ao primeiro mundo para depois, chegar no terceiro. Para o cirurgião, o conhecimento está mais tangível devido ao processo de globalização. Ele evidencia ainda a importância de um médico potiguar conseguir aplicar essa técnica de maneira pioneira em uma região teoricamente mais pobre e com maiores dificuldades, se comparada com outras. Nas Américas, por exemplo, ninguém havia executado ainda, inclusive, na América do Norte.
“Isso serve de estímulo para os jovens que estão ingressando na carreira médica, que o poder que você tem hoje e o acesso ao conhecimento tornam todo mundo igual, com oportunidades para que possam desenvolver novos aparelhos, novas técnicas, o que era bem mais difícil há anos atrás”, disse Márcio.