DHPP investiga morte de adolescente na zona Norte de Natal

A Divisão Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil investiga a morte de um menino de 14 anos, supostamente cometido por policiais do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque). A ação que resultou na morte de Alexsandro Gomes de Paiva aconteceu no domingo, 29 de maio, no Loteamento José Sarney, no bairro Lagoa Azul, zona Norte de Natal.

De acordo com o Boletim de Ocorrência cedido pela Polícia Civil, Alexsandro estava em um beco estreito, em frente à lagoa de captação da rua São Geraldo em Lagoa Azul. Registrada como morte violenta, o documento aponta que o homicídio foi “decorrente de oposição à intervenção policial”. Ou seja, ele teria apresentado resistência e a polícia revidou. A versão, contudo, é refutada por testemunhas que alegam que o adolescente foi executado por policiais sem motivo.

No documento assinado pela delegada da Polícia Civil, Michelle Silva Porto de Barros, após a morte do jovem, a oficial assinala que a “Polícia Militar (BPChoque) socorreu paciente baleado, com múltiplos ferimentos de arma de fogo, já chegando sem sinais vitais”. O horário da ocorrência apontado no documento é de 21h50. Após isso, Alexsandro foi levado para o Hospital Dr. José Pedro Bezerra, conhecido como Hospital Santa Catarina, também na zona Norte de Natal. A entrada na unidade foi às 22h30.

Segundo informações obtidas por meio de pessoas que tiveram acesso à ocorrência, o BPChoque declarou que passava por um beco escuro quando foi recebido por disparos de arma de fogo e respondeu aos tiros. Na incursão, encontrou um indivíduo baleado portando um revólver com três munições intactas e três deflagradas. Ao ser socorrido para o hospital para primeiros socorros, a vítima veio a óbito.

A Ouvidoria recebeu uma denúncia anônima na quinta-feira (02). Segundo o denunciante, Alexsandro teria sido vítima de suposto crime de execução pelo BPChoque. A Ouvidoria, responsável por investigar denúncias recebidas ligadas à atuação da Polícia Civil e Militar do Rio Grande do Norte, solicitou ao Ciosp os registros de ocorrências daquela noite.

Para o órgão da Secretaria de Segurança Pública (Sesed), o fato do adolescente ter sido levado já morto para o hospital, 40 minutos depois, é um motivo de investigação. Segundo a Ouvidoria, daria tempo para os policiais terem pedido uma ambulância ou feito informe por meio do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp).

De acordo com as testemunhas que, por medo, preferem não se identificar, Alexsandro saiu de casa às 19h43 para jogar futebol. Depois, voltou para casa e saiu novamente dizendo que iria para a casa da namorada, que estuda na mesma escola e está no 6º ano. Porém, ficou na rua São Geraldo, próximo da sua casa, conversando com amigos. Perto das 22h, ainda de acordo com testemunhas, a polícia passou na rua com as portas abertas e automaticamente começou a atirar. Os moradores correram para se proteger, porém Alexsandro foi baleado.
As testemunhas afirmam ainda que ouviram a vítima sendo arrastada pelos policiais e agonizando de dor, “como se fosse um bicho”. Depois, deram mais três disparos. “Simplesmente a gente é discriminado por morar aqui, ainda mais ele que perdeu a vida por nada”, descreveu um morador do loteamento.

Os moradores refutam a versão de que o BPChoque reagiu aos disparos de pessoas da rua. Para essas testemunhas, que estavam no beco e viram os disparos, os tiros só vieram de um lado, o dos militares. “Pelo menos chegassem e dessem um ‘baculejo’ em todo mundo, em quem deve e quem não deve. A Justiça não é para isso? Para defender as pessoas? Mas fizeram o contrário. Já passaram com as portas abertas atirando, não respeitaram ninguém. Eles estavam lá para matar quem viesse”, criticou uma testemunha.