Artistas potiguares exibem obras na Itália

Daniel Torres e Fábio Di Ojuara, dois artistas potiguares nascidos em Ceará-Mirim, estão com seus respectivos trabalhos em exposição na 3ª Bienal Arte Dolomiti 2022, em Pieve Di Cadore, na Itália. O evento foi aberto neste mês e segue até 17 de julho como uma mostra internacional que reúne artistas emergentes e estabelecidos de várias partes do mundo.
A nova edição tem como tema “A chave para ser livre”, e abre espaço para que os artistas se expressem em diferentes mídias e linguagens. Daniel e Fábio já expuseram na bienal em 2018, e voltam agora para reafirmar o talento potiguar no cenário europeu.

A bienal soma ao todo 34 artistas, sendo 10 artistas italianos e 24 artistas visuais de mais de 15 países, incluindo a Austrália, Áustria, Brasil, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Israel, Palestina, Polônia, Turquia, Cingapura, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos da América.

A exposição está abrigada no Forte de Monte Rico, um castelo que funcionou como fortaleza militar no final do século XIX. O lugar se caracteriza pela altitude de 953 metros acima do mar, e por ser cercado pela natureza intocada do vale alpino.

Fábio Di Ojuara apresenta na bienal a escultura “A escada, a chave e a vida”. A peça é uma representação física e simbólica daquilo que J.R.R. Tolkien (autor de “Senhor dos Anéis”), em “On Fairy Stories”, chamou de “recuperação imaginativa”, e que alguns de seus leitores entenderam como “uma fuga para a realidade”.

Já Daniel Torres apresenta seis obras em aquarela e duas esculturas-objetos, que integram seu mais recente trabalho: “Catexia”. Multiartista graduado em Produção Cultural pelo IFRN, ele desenvolve seus afazeres artísticos entrelaçando artes visuais e artes cênicas. É gestor do Espaço Artístico A3 de Dança Contemporânea e integrante do Grupo Teatro Carmin. Atualmente, pesquisa a figura do corpo e seus desdobramentos nas artes cênicas.

A Revista Cultue conversou com Daniel sobre a importância da exposição:

Revista Cultue – Como a exposição na Itália aconteceu?

Daniel Torres – Minha primeira viagem à Europa se deu a partir da produção de um espetáculo de dança contemporânea onde pude vislumbrar alguns caminhos e criar algumas pontes. Isso lá em 2016. Sempre hesitei um pouco esse caminho por insegurança e por saber que teria dificuldades com o idioma. A exposição na Biennale Arte Dolomiti aconteceu devido a projeção da performance “TODA MERDA AGORA É ARTE” do artista brasileiro Fábio Di Ojuara, anos atrás. A performance chamou atenção da curadora Paivi Tirkkonen. Fábio teve acesso e abertura à Europa pela mediação da jornalista e fundadora da associação AustriaBrasil – Verônica Schell, e seu esposo Reinhard, que também é artista visual. Eu já tive a oportunidade de ser colaborador da associação em alguns projetos, e isso oportunizou minha apresentação à curadoria, onde apresentei meu portfólio e a presenteei com uma arte na técnica do realismo. O convite para Bienal acontece pelo segundo ano consecutivo. No primeiro ano apresentei a série em pontilhismo PELO PESCOÇO que joga luz sobre a temática da violência contra mulher.

Cultue – Qual é a importância deste momento para sua carreira? E para a arte potiguar?

Daniel Torres – Participar de uma mostra internacional como a Bienal Arte Dolomiti mostra um leque de possibilidades, seja na troca com outros artistas, seja na vitrine expositiva que isso se torna. A Europa possui um peso imenso. A velha premissa da conquista de algo no “velho mundo”. O momento é de suma importância pois venho trabalhando a possibilidades de uma mudança para o lado de cá a largos passos. Isso dá abertura para novos contatos e abre novas redes. Representar o Brasil, e trazer brasilidade para exposição é uma alegria imensa. Outra alegria nesse momento é que participo da mostra junto a outro morador de Ceará-Mirim e vizinho da mesma rua. Na minha obra apresento duas esculturas/objetos que são nada menos do que dois filtros de barro trazidos na bagagem. Pela pesquisa, acredito que seja uma invenção brasileira, e na minha obra, à primeira vista/ideia, o filtro é inserido por ser uma forma fálica e lugar de saciar a sede. No entanto, o objeto desdobra muitos símbolos que ainda vou pesquisando e trocando ideias pelo olhar do outro a cada encontro e a cada informação nova coletada. Para além da mostra, andar pela Itália é muito curioso porque encontramos vestígios das artes mais antigas, obras que fazem a história da arte. Podemos olhar e sentir os pintores que retrataram as imagens religiosas, renascentistas ou construíram com suas imagens, os momentos da história que estudamos na escola. “Parece íntimo”, sem ser! É ver outra realidade, e até mesmo nos reconhecer, em um lugar que não é nosso. Precisamos inverter a lógica do estudo e nos apropriarmos das nossas memórias/produções do que nos pertence de uma forma mais concreta. A colonização faz com que nos reconheçamos por imposição no que não é nosso. Fiz esse apontamento por que é preciso reconhecer e ver um novo cenário. Participar de uma mostra dessa te apresenta um universo rico e diverso de produções artísticas, te faz passear pela cena cultural de outra cidade, te enche os olhos e fascina. Ao mesmo tempo, te faz enxergar que as nossas produções potiguares não deixam nada a desejar. Falo da diversidade que há no cenário dos artistas potiguares e brasileiros. Bebemos muito nessa fonte do que vem de fora, mas já não deixamos a desejar. Viva a arte potiguar e viva a arte brasileira! Uma coisa é clara e posso falar mais precisamente. Há uma forma de valorização que não acontece em nosso país com relação à imagem do artista, ainda mais nos atuais tempos.

Serviço:

III Bienal Arte Dolomiti 2022. Visualizações no site.