Os sucessivos aumentos no preço do óleo diesel – combustível automotivo mais usado no País – vêm impactando negativamente os custos das atividades produtivas e de toda a cadeia de produtos e serviços potiguar. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que o litro do diesel comum subiu 41,1% em um ano no Rio Grande do Norte, movimento que deve puxar os preços de insumos básicos para cima, como analisam autoridades do comércio de alimentos, serviços e do setor logístico. O diesel também abastece o transporte público urbano da capital, que também já prevê baixas no sistema com a alta do combustível.
Diferentemente de outros insumos, qualquer variação do diesel mexe diretamente com a economia local, explica o economista Thales Penha. O professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Depec/UFRN) diz que um dos primeiros sintomas é percebido rapidamente na prateleira do supermercado, uma vez que o diesel termina por elevar o frete de mercadorias. Além disso, Penha acrescenta que o potiguar acaba sentindo mais fortemente o aumento do combustível em comparação com outros estados.
“O Rio Grande do Norte é um Estado que importa muito, a gente tem déficit comercial com quase todos os estados, portanto é um Estado onde entra muito produto de fora. Então, com o aumento do diesel, temos também um aumento do frete”, detalha. A posição é reforçada pelo especialista em mercado financeiro Henrique Souza. Ele acredita que o cenário provoca mudanças negativas na relação de consumo do potiguar.
“Temos uma via de escoamento, que é a Ceasa, por exemplo, com o transporte rodoviário chegando, trazendo os produtos hortifrutigranjeiros com preços mais elevados, que levam em conta essa variável do frete”, complementa.
“Não só na Ceasa [Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte] na capital, todos os gêneros alimentícios, que fazem parte da cesta básica, serão severamente impactados pelo aumento do diesel. Isso o consumidor já vem percebendo no dia a dia, no supermercado por exemplo”, afirma Souza. O diretor executivo da Rede Mais Supermercados, que atua em 11 cidades do RN, Eugênio Pacelli, diz que os reajustes que a rede vem recebendo “foge do padrão” e que o aumento do diesel é “muito preocupante” porque é um dos principais componentes, que são levados em conta na hora de elevar o preço dos alimentos.
“Durante muito tempo, a gente ficava até um ano sem receber nenhum tipo de reajuste, mas esse movimento tem sido muito recorrente. Esses reajustes da indústria acontecem por vários motivos, é o combustível, outra hora é o câmbio, a chuva, a falta de chuva, especulação, então todos esses fatores influenciam. O combustível tem um peso importante nisso. A gente recebe os reajustes da indústria e briga muito para não repassar, mas chega uma hora que o estoque acaba e você não tem outro caminho, a não ser comprar. Fato é que tudo é movido a combustível, então o impacto existe e é grande”, destaca Pacelli.
Potiguar está fazendo compras cada vez menores
Uma pesquisa de cesta básica, divulgada pelo Instituto Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Natal), em abril, constatou que houve alta de preços pelo quarto mês seguido, isto é, um acumulado de 8,42%. O preço médio constatado em abril foi R$ 409,95 ante R$ 402,79 no mês anterior.
O empresário Eugênio Pacelli diz que o desafio é encontrar um equilíbrio para que os repasses dos reajustes não afastem o consumidor. Segundo ele, para não deixar de comprar, o potiguar está fazendo compras cada vez menores.
“O comportamento do preço do combustível mexe com toda uma cadeia de hortifruti, congelados, mercearia, produtos de limpeza. Isso tem provocado queda de consumo e quando existe queda de consumo, muitas vezes a indústria começa a perceber que não está atingindo seus objetivos porque ela precisa vender, o lado especulativo da indústria termina caindo. Se eu vendia quantidade X de feijão e passei a vender muito menos, com preço mais caro, pode até parecer que não, mas pode fazer com que a indústria repense o comportamento dela”, conta.
O último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que o preço médio do litro do combustível era R$ 7,03 na segunda semana de maio (8 a 14). Na primeira semana de janeiro, o litro do diesel era comercializado a R$ 5,53. Isto é, R$ 1,50 mais barato do que o preço praticado na última semana. Somente em 2022, a elevação é de 27,12%.
Na capital potiguar, o litro do diesel já pode ser encontrado por R$ 7,49. De acordo com dados da ANP, divulgados na sexta-feira (13), o diesel teve aumento médio de 3,3% nos postos de abastecimento na semana de 8 a 14 de maio. O preço médio no País ficou em R$ 6,85 o litro, sendo o valor mais alto de R$ 8,30 e o mais baixo de R$ 5,49. O aumento reflete a alta de 8,9% no diesel anunciada pela Petrobras no início da semana. Os preços nas refinarias da empresa acompanham a alta do petróleo no mercado internacional.
Síntese de preços
Evolução no ano e na série histórica
Variação do diesel em um ano no RN (valores médios/mês):
Mai/21 R$ 4,71
Jun/21 R$ 4,69
Jul/21 R$ 4,73
Ago/21 R$ 4,72
Set/21 R$ 4,87
Out/21 R$ 5,25
Nov/21 R$ 5,56
Dez/21 R$ 5,42
Jan/22 R$ 5,68
Fev/22 R$ 5,73
Mar/22 R$ 6,36
Abr/22 R$ 6,65
Mai/22 R$ 6,84
Série história do preço do diesel no RN, com referência no mês de maio de cada ano (valores médios):
2022 R$ 6,84
2021 R$ 4,71
2020 R$ 3,00
2019 R$ 3,75
2018 R$ 3,71
2017 R$ 3,06
2016 R$ 3,11
2015 R$ 2,76
2014 R$ 2,48
2013 R$ 2,25
2012 R$ 2,01
2011 R$ 2,00
2010 R$ 1,96
2009 R$ 2,07
2008 R$ 2,01
2007 R$ 1,82
2006 R$ 1,83
2005 R$ 1,65
2004 R$ 1,32
2003 R$ 1,40
2002 R$ 0,96