Seis meses depois da retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão, mais da metade dos quase 39 milhões de habitantes do país asiático é vítima de insegurança alimentar. Outros 9 milhões de pessoas correm alto risco de passar fome.
Os afegãos vivem hoje uma escalada dos preços, desemprego e iminente colapso do sistema bancário. Dawisson Belém Lopes, pesquisador sênior do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), explicou que parte disso é resultado da saída dos EUA.
“Sempre que os Estados Unidos ocupam, eles trazem muita gente, trazem recursos e mexem com a economia local”, falou. Quando as tropas norte-americanas são retiradas, a região é descapitalizada, “sobretudo um local tão empobrecido como o Afeganistão”.
A outra parte vem “da dificuldade de o Afeganistão sob o Talibã se conectar com circuitos econômicos internacionais”. Segundo Lopes, o país não tem “uma economia sofisticada”. Ele também citou as sanções econômicas impostas ao Afeganistão desde que os talibãs conquistaram Cabul, em agosto de 2021.
Os EUA e outros países não reconheceram o Talibã como um governo legítimo. Além de estabelecerem sanções, eles bloquearam o acesso a mais de US$ 9 bilhões em reservas do governo afegão no exterior.
“O Talibã tem dificuldade para tocar relações diplomáticas de forma regular”, disse o pesquisador. “Isso também gera um sufocamento econômico, um empobrecimento que, no limite, leva à fome, à miséria, à depauperação dos afegãos.”
O especialista explicou que não dá para apontar o principal culpado pela crise no Afeganistão. “O que esse episódio mostrou é que essas ocupações territoriais sob o pretexto de reconstrução, para os Estados Unidos exportarem valores, instituições, democracia, um padrão de observância de direitos humanos, nunca funcionam.”
Tanto os problemas que a população afegã enfrenta hoje quanto as cenas “catastróficas” vistas no aeroporto de Cabul durante a retirada dos EUA criaram uma percepção global de que “ainda não era o momento” para a saída das tropas norte-americanas. A avaliação é de Alexandre Uehara, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).