Rio e São Paulo – Puxada pelos alimentos, a inflação começou o ano pressionada. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação, subiu 0,54% em janeiro, informou na quarta-feira (9), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta de 1,11% na alimentação respondeu por pouco menos da metade do avanço agregado. Foi a maior taxa para o mês desde 2016 (1,27%), mantendo a inflação em um ano em dois dígitos, como ocorre desde setembro. O IPCA acumulou alta de 10,38% nos 12 meses até janeiro, ante 10,06% até dezembro.
As altas foram disseminadas e os alívios, concentrados em combustíveis, conta de luz e passagens aéreas. Os dados vieram como o previsto por analistas consultados pelo Projeções Broadcast. Para economistas, o número de janeiro mantém a perspectiva de inflação pressionada para 2022, como sinalizou anteontem o Banco Central (BC) na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Segundo o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, a inflação de janeiro “não piorou a situação, mas não trouxe nenhuma novidade positiva”. O economista Luis Menon, da gestora Garde Asset, observa que “o que pendeu para baixo foram os (preços) administrados, mas os (preços) livres continuam altos”.
A inflação de alimentos foi puxada pela comida comprada para consumo em casa, afirmou André Guedes, analista do IBGE. Os preços médios da comida nos supermercados, mercadinhos e feiras livres avançaram 1,44% em janeiro, acima do 0,79% de dezembro de 2021. No mês passado, os vilões foram as frutas (alta de 3,40%), o café moído (4,75%, no 11.º mês consecutivo de alta) e as carnes (alta de 1,32%). Outros destaques foram a cenoura (27,64%), a cebola (12,43%), a batata-inglesa (9,65%) e o tomate (6,21%). No lado das quedas, houve recuos nos preços do arroz (-2,66%), do frango inteiro (-0,85%) e do frango em pedaços (-0,71%).
Reajustes de alimentos, especialmente in natura, são comuns nesta época, por causa do período chuvoso no Centro-Sul, só que a inflação não ficou só aí, “está mais disseminada em janeiro do que na maior parte de 2021”, afirmou Guedes. O índice de difusão (proporção dos itens que tiveram alta em relação ao total pesquisado) ficou em 73%. No ano passado, o indicador ficou acima de 70% apenas em dezembro (75%) e agosto (72%).
Insumos
O analista do IBGE chama a atenção para o efeito de reajustes de itens usados como insumo de diversas atividades, como os combustíveis e a energia elétrica. Na indústria, esses custos se somam aos das cadeias globais de produção. Sinal disso foram as altas de preços de eletrodomésticos e equipamentos (2,86%), de mobiliário (2,41%), de equipamentos de TV, som e informática (1,38%) e de automóveis novos (2,19%).
Como contraponto, a gasolina ficou 1,14% mais barata, e o etanol caiu 2,84% em janeiro, mas o movimento foi influenciado pela redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Rio Grande do Sul. Como parte de uma reforma para penalizar menos os pobres na cobrança do imposto, a alíquota sobre combustíveis e energia baixou de 30% para 25% em 1º de janeiro, após seis anos majorada.
Segundo André Guedes, a trégua pode ser temporária, porque os preços de combustíveis nas refinarias, que haviam caído em dezembro, foram reajustados para cima no último dia 12 de janeiro.
Varejo cresce 1,4% em 2021, mas perde fôlego para 2022
Rio e São Paulo (AE) – As vendas do varejo brasileiro encerraram 2021 com crescimento de 1,4%, o quinto ano positivo consecutivo. Apesar do bom desempenho no ano, a perda de fôlego do setor no segundo semestre acende um sinal de alerta para 2022, reflexo da inflação mais alta, o crédito mais caro e o elevado desemprego.
Dados divulgados nesta quarta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as vendas do varejo cresceram 0,1% em dezembro, frente a novembro, na série com ajuste sazonal da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). O resultado foi melhor do que a mediana das estimativas captadas pelo Projeções Broadcast, que apontavam para queda de 0,5%.
Das oito atividades do varejo acompanhadas pelo IBGE, três tiveram queda em dezembro, incluindo setores relevantes para o comportamento geral das vendas, como Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,7%).
Segundo Cristiano Santos, gerente da PMC, o setor completou em dezembro três meses consecutivos de estabilidade. No período, o aumento da taxa básica de juros afeta o crédito ao consumidor – um ciclo que não terminou e que deve se prolongar neste ano. Ele lembra que a Black Friday e o Natal foram fracos em vendas.
“Existe também certa reestruturação de vendas. Os consumidores não aguardam mais a Black Friday para fazer algum tipo de consumo, por que determinados setores adiantaram-se e fizeram promoções no primeiro semestre do ano passado”, disse Cristiano Santos.
O varejo havia registrado crescimento de 6,7% no primeiro semestre de 2021, frente ao mesmo período do ano anterior. O segundo semestre do ano passado, porém, mostrou queda de 3% nas vendas. O comportamento foi o inverso do registrado no ano anterior, que teve um segundo semestre mais forte. Com o desempenho ruim na segunda metade do ano, o nível das vendas do varejo está 2,3% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. As vendas também estão 5,7% abaixo do patamar recorde, de novembro de 2020.
Variação de preços (%)
Produtos e serviços pesquisados pelo IBGE
Alimentação e bebidas: 1,11
Habitação: 0,16
Artigos de Residência: 1,82
Vestuário: 1,07
Transportes: -0,11
Saúde e Cuidados Pessoais: 0,36
Despesas Pessoais: 0,78
Educação: 0,25
Comunicação: 1,05
Índice geral:
Dezembro: 0,73%
Janeiro: 0,54%